Sound Classic: "Chaos A.D." - Sepultura

Lançado em 2 de setembro de 1993, Chaos A.D., quinto álbum de estúdio do Sepultura, catapultou a banda mineira rumo ao topo. Diferente de tudo que fora feito até então, o disco apresentou uma faceta vanguardista do quarteto de Belo Horizonte, que desenvolveu um novo jeito de tocar metal, que seria a tônica daquela década. 

Max Cavalera (vocal/guitarra), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Júnior (baixo) e Igor Cavalera (bateria), os jungle boys, já haviam apavorado a cena metal com o clássico Arise (1991) - mas o caminho começou a ser pavimentado com o ótimo Beneath The Remains (1989), o estranho Schizophrenia (1987) e os primitivos Bestial Devastation/Morbid Visions (1985/1986).  

>> Resenha: "Bestial Devastation/Morbid Visions" - Cavalera

Para entendermos Chaos A.D., é necessário conhecer o contexto em que ele foi lançado. Para muitos, os anos 1990 foram um período conturbado para o metal "tradicional". A indústria passava por mudanças, com o boom do grunge e os primeiros passos do nu-metal. E, assim como o Metallica, que se adaptou à década, o Sepultura fez o mesmo.

>> Resenha: "72 Seasons" - Metallica

>> Sound Classic: "Kill 'Em All" - Metallica 

Mesmo com todo o sucesso de Arise, o Sepultura soava como todas as bandas de thrash metal daquela época - frequentemente comparado ao Slayer. Era hora de expandir os horizontes, buscar o diferencial e se tornar uma referência. E a mudança veio. O que chamou a atenção logo de cara em Chaos A.D. foi a ausência de velocidade. Em vez disso, a banda apostou em riffs mais densos e cadenciados, além de afinações mais baixas. O Sepultura abraçou o groove para nunca mais soltar.

A nova abordagem pode ser conferida em Refuse/Resist e Territory, as faixas que abrem o disco. Ambas trazem no conceito lírico problemas sociais, algo bem presente em todo o trabalho. Enquanto a primeira nos ensina a recusar e resistir a qualquer desmando, a segunda versa sobre algo que existe desde que o mundo é mundo: a guerra por territórios. Ainda nesse aspecto, Manifest merece ser destacada.

Mas o grande pulo do gato em Chaos A.D. foi a inserção, mesmo que "tímida", de ritmos ligados à musicalidade brasileira. O ritmo tribal no início da já citada Refuse/Resist era um indício do que viria por aí, mas é em Kaiowas que essa brasilidade fica latente. A belíssima faixa acústica é intensa e dramática, e presta uma homenagem à tribo indígena que dá nome à música.

>> Resenha: "SepulQuarta" - Sepultura

Chaos A.D. conta com as participações de Evan Seinfeld, do Biohazard, como coautor em Slave New World, e do lendário Jello Biafra, que escreveu as letras de Biotech is Godzilla, a única faixa com o pé no acelerador em todo o disco. O álbum ainda apresenta dois covers excelentes: The Hunt, do New Model Army, e Polícia, dos Titãs.

... 

É preciso ter coragem para quebrar paradigmas e, naquele ano de 1993, o Sepultura mostrou coragem em Chaos A.D.. Por mais que mudanças possam trazer desconfianças — e nesse caso não foi diferente —, os mineiros preferiram deixar de ser "só mais uma na cena de thrash" para revolucionar o metal e influenciar toda uma legião de bandas que surgiram naquela década.

Comentários