Como um trio e adotando os pseudônimos de Euronymous (guitarra/vocal), Necrobutcher (baixo) e Manheim (bateria), a banda deu seus primeiros passos nas composições. A ideia era elevar ao extremo ideias que até então somente Venom, Hellhammer/Celtic Frost e Bathory sustentavam em suas músicas.
Em 1986, pela Funny Farm, o Mayhem lançou a demo Pure Fucking Armageddon limitada em 100 cópias. A tape nada mais é que um artefato sonoro doentio concebido por mentes igualmente doentias. Hoje, este material é peça raríssima e item de colecionador.
Ainda trilhando o caminho das demo, a banda lançou no ano seguinte a Deathrehearsal, peça embrionária para o álbum tema deste texto. Já com Sven-Erik Kristiansen a.k.a Maniac nos vocais, esta demo chama a atenção pela inclusão do cover de California Über Alles do Dead Kennedys.
Principal nome da chamada segunda onda do black metal, o Mayhem assinou um acordo com a Posercorpse Music para o lançamento do seu EP de estreia. Deathcrush chegou ao mercado em dois formatos em 1987: fita K7 em março, vinil limitado a mil cópias em agosto e novamente K7 em fevereiro de 1991. Um detalhe que desagradou a banda foi a coloração rosada na capa do vinil.
(Obs.: a capa com o tom avermelhado que ficou mundialmente conhecida saiu apenas em 1993, quando Euronymous, através da sua gravadora Deathlike Silence, relançou o EP)
A importância de Deathcrush para a cena e para o Mayhem foi tanta que a banda se sustentou por anos só com a reputação alcançada com o material. Musicalmente, no entanto, o som apresentado não era o black metal clássico que contaminou a Noruega nos anos 1990. Um som que posteriormente ganhou o rótulo de proto-death.
Dando um claro sinal de que o material não vinha de pessoas normais, o EP abre com a esquisitíssima instrumental Silvester Anfang. A história por trás desta música é a seguinte conforme a lenda: Euronymous era fã do Tangerine Dream, um grupo alemão de música experimental/eletrônica/tecno.
Ainda segundo a lenda, o vocalista encontrou o endereço de Conrad Schnitzler, principal compositor do grupo, e foi até sua casa pedir que ele compusesse e gravasse uma introdução para o EP. Schnitzler vasculhou seu arquivos e entregou-lhe a música já pronta.
Com a porta do hospício aberta, Deathcrush impacta pelos vocais de Maniac que berra como um porco indo para o abate. Clássica! A mórbida Chainsaw Gutfuck mantém intacta a proposta de música obscura e doentia. Em Witching Hour, do Venom, Maniac divide os vocais com Messiah em um cover apetitosamente tosco.
O caos sonoro com riffs dissonantes em Necrolust abre passagem para a intrigante e perturbadora (Weird) Manheim e seu depressivo diálogo entre guitarra e piano. O EP termina com uma releitura igualmente anárquica de Pure Fucking Armageddon, da primeira demo.
Deathcrush deu ao Mayhem status de "melhor banda da Noruega". Peça seminal, este trabalho moldou o que viria a ser a tão conhecida e impactante cena de black metal local. Um álbum ímpar e atemporal que será cultuado por anos incontáveis por aqueles que, assim como seus mentores, trilham caminhos sinistros.
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