Sound Classic: "Seventh Son of a Seventh Son" - Iron Maiden

Em abril de 1988, o Iron Maiden lançou seu sétimo disco de estúdio intitulado Seventh Son of a Seventh Son. Considerado por fãs e críticos de heavy metal como um dos melhores trabalhos da banda - muitos até acreditam que ele seja O Último Grande Álbum da Donzela -, marcou o fim de um período iluminado do quinteto inglês carinhosamente conhecido como Golden Years. E é Seventh Son of a Seventh Son, álbum que completou 35 anos nesta semana, o tema deste artigo. 

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Não é nenhum exagero afirmar que o Iron Maiden era A Banda de Heavy Metal nos anos 1980. A curva ascendente rumo ao topo começou com o lançamento do mega clássico The Number of the Beast em 1982. O ápice veio dois anos depois com o assombroso Powerslave. Àquela altura, a Donzela reinava absoluta e parecia intocável. No entanto, grandes responsabilidades exigem grandes esforços. 

>> Sound Classic: "The Number of the Beast" - Iron Maiden

A interminável Slavery World Tour 1984/1985 causou ruídos dentro da banda, principalmente com relação a Bruce Dickinson e Adrian Smith. O vocalista, no entanto, foi o mais afetado e, em declarações posteriores, afirmou ter pensado pela primeira vez em "pular do barco". Apesar do aparente caos interno, 1986 foi um ano de afirmação com o também clássico Somewhere In Time

Surfando numa onda da época, o Iron Maiden inseriu sintetizadores no seu som, além do uso - ainda que discreto naquele momentode teclados. Era uma espécie de "ensaio" para o viria depois. E se o resultado no "ensaio" já foi incrível (com 2 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos!), a expectativa pelo que viria a seguir era a melhor possível. 

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Após o fim da Somewhere On Tour 1986/1987, o Iron Maiden, na figura do mentor-mór Steve Harris, ainda não tinha ideias para o novo álbum de estúdio. O insight veio quando o baixista leu uma história sobre o sétimo filho do sétimo filho. 

"Li uma história sobre o sétimo filho de um sétimo filho, uma figura mítica que deveria ter vários dons paranormais, como clarividência e coisas assim. No começo, era só um bom título para o sétimo álbum, sabe? Mas, depois que telefonei para o Bruce e contei a minha ideia, ela simplesmente cresceu", declarou Steve ao jornalista Mick Wall em entrevista para a biografia Run To The Hills - A Biografia Autorizada (Generale/Évora, 2014). 

Sem nenhuma composição aceita para o trabalho anterior, Dickinson ficou de orelha em pé com a possibilidade de um álbum conceitual. Empolgado, o vocalista participou ativamente da composição de quatro faixas, ou seja, 50% do disco.

"Quando Steve mencionou a expressão "álbum conceitual", meus ouvidos se espicharam e meu coração disparou. Trama, teatro: estava tudo lá em 'Seventh Son of a Seventh Son'", escreveu Bruce na autobiografia Para Que Serve Esse Botão? (Intrínseca, 2018). 

Mas, no fim das contas, Seventh Son of a Seventh Son era um álbum conceitual, porém nem tanto. Apesar de ser promovido desta forma, não existe uma história linear contada no disco. Existe, de fato, o conceito do sétimo filho do sétimo filho, mas as músicas não dialogam entre sim. Na visão de Dickinson as composições dele estavam mais próximas do tema, enquanto as de Steve não. 

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Escrito e pré-produzido no celeiro da casa de Steve em Essex, no interior da Inglaterra, Seventh Son of a Seventh Son foi gravado no lendário Musicland, na Alemanha, sob a batuta de Martin Birch. Sem exageros tanto de valores investidos quanto em tempo empregado na gravação do disco, SSoaSS foi finalizado em incríveis dois meses. 

Musicalmente, o álbum apresenta uma abordagem mais progressiva em termos de composição e estrutura das músicas. Faixas como Infinite Dreams e Seventh Son of a Seventh Son são exemplos dessa abordagem, com melodias mais elaboradas e arranjos mais complexos do que os encontrados em álbuns anteriores da banda. Além disso, também é notável o uso em maior profusão de teclados (Michael Kenney, roadie de Steve Harris, assumiu a função de tecladista sob o codinome de O Conde) e sintetizadores, algo que foi iniciado no trabalho antecedente e aqui ganhou contornos mais épicos. 

Seventh Son of a Seventh Son foi sucesso de vendas - tornando-se naquele momento o álbum comercialmente mais bem sucedido da Donzela - e emplacou todos os quatro singles no TOP 10 das paradas britânicas. Apesar disso, no maior mercado consumidor do mundo as coisas não foram tão bem assim. Com 800 mil cópias vendidas a menos que Somewhere In Time, SSoaSS não caiu nas graças do público norte-americano. 

As tentativas de justificar o "fracasso" comercial na Terra do Tio Sam são muitas: o crescimento do thrash metal, que fazia o pomposo som do Iron Maiden soar como música para criança; o "concorrente" direto Operation: Mindcrime do Queensrÿche; ou, como Harris ponderou, o público só não gostou mesmo. Mas o cenário estava longe de ser de terra arrasada, e a turnê de promoção do disco comprovou isso. 

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A 7th Tour of a 7th Tour teve início em 28 abril de 1988, em Colônia, na Alemanha, com o famigerado show secreto sob o nome de Charlotte and the Harlots. Em maio, novamente começando com um show secreto em Nova Iorque, o Iron Maiden deu o pontapé a extensiva turnê de três meses pela América do Norte. Nesta perna, nomes como Guns N' Roses, L.A. Guns, Megadeth e Savatage foram as bandas de abertura. 

De volta à Europa, o Iron Maiden foi do céu a inferno em questão de dias. O lendário show secreto no Queen Mary's College em 17 de agosto foi o aquecimento perfeito para o grande evento daquela tour. Finalmente chegara a vez da Donzela subir no palco como headliner do conceituado Monsters of Rock, em Donington Park. 

Mas o que era para ser uma festa sem precedentes ao lado de nomes como KissDavid Lee Roth, Guns N' Roses e Helloween, o 20 de agosto de 1988 ficou marcado na história da banda por dois motivos distintos: a realização de um show impecável para um público estimado em mais de 100 mil pessoas e a morte de dois fãs adolescentes pisoteados durante um tumulto na plateia. 

A turnê seguiu pelo Velho Continente nos meses seguintes com datas importantes. Em 27 e 28 de novembro, a banda se apresentou na NEC Arena, em Birminghan, e os shows deram origem ao vídeo Maiden England, lançado em 1989. O ponto final da 7th Tour of a 7th Tour foi em 12 de dezembro, no Hammersmith Odeon

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O que ninguém poderia imaginar é que aquele também foi o ponto final no período mais glorioso da história do Iron Maiden. Incomodado com os rumos que a banda projetava dali para frente, Adrian Smith deixou a Donzela no início dos anos 1990 antes das gravações de No Prayer For The Dying. Mas aí é papo para outro texto... 

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Referências: 

DELLAMANHA, André. Background: Iron Maiden. Roadie Crew, São Paulo, Ano 7, #65. Junho/2004.

DELLAMANHA, André. Background: Iron Maiden. Roadie Crew, São Paulo, Ano 7, #66. Julho/2004.

DICKINSON, Bruce. Para Que Serve Esse Botão? - Uma autobiografia1° edição. São Paulo. Intrínseca, 2018. 

JURAS, Stjepan. Seventh Son of a Seventh Son. Um Clássico do Iron Maiden. 1° edição. Minas Gerais. Estética Torta, 2021.

POPOFF, Martin. Where Eagles Dare: Iron Maiden nos anos 80. 1° edição. São Paulo. Editora Denfire, 2020. 

Seventh Tour of a Seventh Tour: May - December 1988. The Iron Maiden Commentary, 2011. Disponível em: http://www.ironmaidencommentary.com/?url=tour07_ssoass/dates07_ssoass&lang=eng&link=tours. Acesso em: 10/04/2023.

WALL, Mick. Run To The Hills - A Biografia Autorizada. 1° edição. São Paulo. Generale/Évora, 2013. 

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