Review: "Shades Of Sorrow" - Crypta

Apesar da breve existência de menos de uma década, a Crypta já acumula muita história. Após saírem da Nervosa, Fernanda Lira (vocal/baixo) e Luana Dametto (bateria) uniram forças com as guitarristas Tainá Bergamaschi e Sonia Anubis, e lançaram o aclamado debut Echoes Of The Soul, em 2021. Durante a turnê de promoção do álbum, Anubis deixou a banda, sendo substituída por Jessica di Falchi. Agora, a Crypta acrescenta mais um capítulo nesta curta trajetória com o lançamento de Shades Of Sorrow (via Napalm Records/Shinigami Records).

O conceito de comodismo parece não existir no vocabulário da Crypta. Enquanto seria natural replicar em Shades Of Sorrow o que foi apresentado em Echoes Of The Soul, o quarteto decidiu ir além. Ambicioso, o álbum mantém a intensidade característica do death/black/thrash metal, mas ao mesmo tempo incorpora ao longo das 13 faixas um ambiente mais sombrio e densamente atmosférico.

>> Resenha: "Echoes Of The Soul" - Crypta

A intro The Aftermath evoca os melhores momentos do cinema de terror. Com um piano intrigante e carregada de muito suspense, ela abre caminho para o urro assombroso de Fernanda e um instrumental poderoso em Dark Clouds. E aqui já destaque-se o trabalho minucioso de Rafael Augusto Lopes na produção; o álbum, gravado no Family Mob Studio, soa 100% orgânico com muita autenticidade e fluidez.

O baixo pulsante de Lira dá o tom em Poisonous Apathy. As novas guitarristas não ficam atrás, com Tainá e Jessica entregando riffs, harmonias, melodias e solos certeiros, numa interação comparável à sinergia lendária de Pelé & Coutinho nos áureos tempos do Santos Futebol Clube. Além disso, é evidente a presença de linhas mais melódicas ao longo de todo o disco.

Para mim, que sou um baterista frustrado, ouvir a destreza de Luana na bateria é um verdadeiro deleite. A performance dela em The Outsider e The Other Side Of Anger exibe uma ferocidade inegável. A força com que executa cada nota, por mais abstrata que seja, é perfeitamente palpável. Nessa mesma linha, a faixa Trial Of Traitors - que no início traz à mente uma fusão entre os clássicos Alison Hell, do Annihilator, e The Philosopher, do Death - retrata Dametto como uma força sobrenatural, destruindo seu kit sem nenhum remorso.

E, finalmente, atingimos o ápice. Como descrever Lord Of Ruins? O riff principal é uma das composições mais belas e assustadoras que já tive o prazer de ouvir! Com uma pegada influenciada pelo black metal moderno, com nuances mais melódicas, é uma peça verdadeiramente incrível. Nessa faixa, as habilidades de toda a banda brilham, com as quatro executando seus papéis na música de maneira magistral. Junto com Trial Of Traitors, é a minha favorita do álbum.

Um dos discos mais aguardados do ano, Shades Of Sorrow eleva a Crypta a outro patamar. Se no primeiro álbum a banda já haviam chutado a porta e entrado com tudo na primeira fileira do death metal, agora ela marca posição e estabelece suas bases para se tornar uma referência dentro do estilo. 

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