Mayhem Live in Jessheim: a personificação do black metal cênico

Mayhem no camarim em Jessheim

Antes de chegarmos ao evento central deste texto, é necessário uma breve contextualização sobre o que acontecia com o Mayhem na virada dos anos 1980 para 1990. A banda surfava no prestígio conquistado após o lançamento do artefato Deathcrush, em 1987. Enquanto vivia do status alcançado com o EP, o trio formado por Euronymous (guitarra), Necrobutcher (baixo) e Hellhammer (bateria) entrou em hiato para buscar um novo frontman. O escolhido veio do país vizinho, Suécia, e era conhecido como Dead

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Nascido na cidade de Västerhaninge, no Condado de Estocolmo, Per Yngve Ohlin sempre foi uma figura controversa. Extremamente depressivo, Pelle fundou, em 1986, o Morbid, banda de death metal com a qual gravou a demo December Moon no ano seguinte. Desiludido, respondeu ao anúncio do Mayhem. Já evidenciando sua mente doentia, enviou para Euronymous uma fita do Morbid, uma carta de apresentação e um rato crucificado(!).

Diante do "currículo", não foi nenhuma surpresa quando o Mayhem anunciou Dead como vocalista em 1988. Junto com os novos companheiros, o sueco se mudou para o vilarejo de Kråkstad nos arredores de Oslo. A união entre a mente perturbada de Dead e a musicalidade de Euronymous moldou tanto a estética quanto a linguagem do black metal que conhecemos hoje. Era, então, a hora de levar essa novidade para o público. E assim chegamos ao foco deste texto.

HIGH VOLTAGE KONSERT 

A estreia de Dead como frontman do Mayhem aconteceu em 3 de fevereiro de 1990. O local escolhido foi o Folkets Hus, na cidadezinha de Jessheim, no sudoeste da Noruega. Havia muita expectativa pelo show, afinal, os boatos sobre o comportamento extremo de Pelle corriam de boca em boca pela cena. 

O evento contou com Minas Tirith, Red Harvest e Death Mission. Assim como o Mayhem, nenhuma delas tinham gravado um álbum sequer. Todas divulgavam suas respectivas demos - vale ressaltar que essas bandas tocavam death metal, estilo supostamente odiado por Euronymous & Cia. Na plateia, a presença de figuras que posteriormente fundaram bandas era cativa. 

>> Mayhem: Live in Jessheim (vídeo)

Apesar da precariedade em termos de equipamento, o que aconteceu naquela noite tornaria aquela formação do Mayhem em uma banda cult. Se o som era ruim, o mesmo não pode se dizer sobre o "cenário". Cabeças de porcos fincadas em estacas adornavam o palco e renderam cenas grotescas ao evento. Além disso, a pouca iluminação e a fumaça com gelo seco contribuíram para o clima macabro. 


A imagem de extremo que Euronymous sempre quis dar ao Mayhem só foi possível graças ao ingresso de Dead na banda. A performance do vocalista impressionava pela brutalidade. O ápice da barbárie vinha quando Pelle, na maior naturalidade, começava a se cortar no palco com um caco de vidro. 

Dead personificou a imagem do black metal com sua performance em Jessheim. Seu comportamento no palco era diferente de tudo que fora visto até então. Musicalmente, foi neste show que a histórica introdução para a música Freezing Moon foi entoada pela primeira vez  - tanto que o Mayhem a usa até hoje! 

"When it's cold 

And when it's dark 

The freezing moon can obsess you"


A partir desse show o Mayhem virou uma verdadeira instituição. Criou-se o mito. Os shows eram concorridos e havia sempre a expectativa para saber se o próximo seria mais brutal que o anterior. Em Sarpsborg, por exemplo, Dead precisou ser hospitalizado por conta da automutilação. E era o que o público queria ver! 
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Todas as possibilidades do que poderia vir daí em diante se foram quando Pelle ceifou a vida com um tiro na cabeça em 8 de abril de 1991. 
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Tanto o Mayhem quanto Dead alçaram o black metal a outro estágio. Mesmo sem terem um registro sequer gravado em estúdio - o único com essa formação é o mediano Live in Leipzig - o legado musical e cênico criado pelos noruegueses segue sendo cultuado e reproduzido até hoje.

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