O metal tem a mitologia nórdica e alguns eventos históricos ocorridos na Europa como grande fonte de inspiração. Em termos comparativos, poucas são as bandas que se propõem a buscar algo fora deste tema. É aí que se insere o Ysyry Mollvün e o debut autointitulado, lançado pela Avantgarde Music.
Relativamente novo, o Ysyry Mollvün foi idealizado pelo argentino Zupai Ulen em 2012. Conceitual, o trabalho ganhou mais corpo em 2015 quando Antonio Sanna (Downfall Of Nur) aproximou-se de Ulen e se ofereceu para ser produtor da banda. E com Sanna o Ysyry desenvolve-se musicalmente tendo o black metal como som principal, mas adicionando instrumentos nativos da América do Sul como charango, sikus, flautas e percussões. O que rendeu ao projeto a alcunha de native black metal.
O projeto traz histórias relacionadas à mitologia do povo Selk'nam, nativos indígenas que habitavam a região sul da Patagônia entre a Argentina e o Chile; extinto entre o final do século XIX e início do século XX, no evento que ficou conhecido como Genocídio Selk'nam. Genocídio este causado por emigrantes europeus que exploravam a região.
Sanna (esq.) e Ulen (dir.) / Foto: divulgação |
Ysyry Mollvün, no entanto, foca na mitologia Selk'nam com a história de K'aux. Conta-se que K'aux, "um ser que já foi um humano, foi educado pelos deuses Selk'nam para ensinar à tribo o que era necessário para sobreviver nas duras condições do extremo sul do mundo. K'aux traiu seu juramento e não transmitiu o que aprendeu, e por isso foi condenado a permanecer para sempre, nem morto nem vivo, no centro da terra.
Mil anos depois, Espirito del Monte, o deus que puniu K'aux, não conseguia entender o que aconteceu com as outras divindades, pois, exceto o Deus da Morte (San la Muerte), nenhum deles estava mais nesta terra. Tudo havia mudado, havia mais pessoas que vivendo nesta terra, a flora e a fauna que haviam não existiam mais e tudo como era há milhares de anos era mais. Por causa disso, o Espirito del Monte decide acordar K'aux para que ele possa ver com seus olhos humanos o que aconteceu e o que deve ser feito para que tudo volte ao que era antes."
E é neste contexto mitológico riquíssimo que Ysyry Mollvün se desenvolve. Com apenas seis canções, o disco narra a ascensão de K'aux, o encontro com Espirito del Monte e a glória de San la Muerte. Musicalmente o som traz influências, claro, do black metal praticado nos anos 1990. No entanto, a presença dos instrumentos nativos é que deixa a música mais atraente.
Destaques para K'aux Talk To Espirito del Monte e seu riff espetacular; K'aux Lament que com uma pegada meio rock'n'roll vibrante e ao mesmo tempo extremamente melancólica; e San la Muerte II, que fecha o disco com uma atmosfera incrível!
É cedo para saber o que Ulen e Sanna pensam para o futuro do Ysyry Mollvün, afinal o duo acabou de lançar o primeiro disco. Mas eu, como um amante de História, espero que eles deem continuidade a esse projeto e explorem ainda mais a fascinante mitologia do povo Selk'nam.
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Ps.: Ysyry Mollvün (Rio de Sangue) é a junção de duas palavras em línguas distintas. Ysyry significa "rio" em guarani e Mollvün significa "sangue" na língua do povo Selk'nam.
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