Review: "Черная Литургия / Black Liturgy"  -  Batushka

Antes de falar sobre o cd/dvd ao vivo Черная Литургия / Black Liturgy, é necessário gastar algumas linhas para explicar - a quem não sabe da missa um terço (haha)  -  a história meteórica e confusa do Batushka/Батюшка desde a sua criação até aqui.

Fundada em 2015 pelo multi-instrumentista polonês Krzysztof Drabikowski (a.k.a Христофор), a banda fez um enorme sucesso com o lançamento de Литоургиiа (Litourgiya) naquele mesmo ano. À época, o vocalista Bartłomiej Krysiuk (a.k.a Барфоломей) já fazia parte do grupo como músico contratado.

Impulsionado pelo lançamento do primeiro álbum, a banda tocou nos principais festivais do mundo em uma turnê bem sucedida. Misturando black metal com rituais litúrgicos ortodoxos do leste europeu, o Batushka entrou em estúdio para a gravação do seu segundo álbum. 

Drabikowski foi, deste o início, principal mentor do projeto  -  o nome, as músicas, a estética visual e todo o conceito por trás da banda são criações dele. Só que, segundo Drabikowski, Krysiuk agiu pelas suas costas, se apossou do Batushka e passou a vender shows pelo mundo afora, além de ter assinado contrato com o selo Metal Blade. Evidentemente que isto foi parar na justiça e, em um determinado momento, duas bandas com o mesmo nome coexistiram: o Батюшка (escrito em alfabeto cirílico) do Drabikowski e o Batushka do Krysiuk

Desta forma, enquanto a justiça polonesa não resolvia quem seria o detentor da marca em definitivo, as bandas continuaram trabalhando e lançaram novos discos: Панихида (Pahinida) do  Батюшка, e Господи (Hospodi) do Batushka.

Todo esse imbróglio chegou ao fim em junho de 2019 quando a justiça polonesa deu a Bartłomiej Krysiuk os direitos sob o nome Batushka tanto no alfabeto ocidental quanto no alfabeto cirílico (Батюшка). Assim, em agosto de 2020, o Батюшка lançou o EP Раскол (Raskol) pela Witching Hour Production

Resumida a história, chegamos em Черная Литургия / Black Liturgy (via Witching Hour Production), gravado em novembro passado no festival Rock al Parque, em Bogotá (COL). O lançamento oficial do material em cd e dvd aconteceu no dia 24 de dezembro de 2020.

Quem já acompanhou um show do Батюшка, seja pessoalmente ou por vídeo, sabe que carisma e empolgação passam longe, até porque a liturgia é um negócio sério. E neste caso ela é muito obscura e fria, sendo as apresentações da banda verdadeiras Missas Negras. 

O setlist abrange praticamente todas as músicas dos discos Господи (Hospodi) e Раскол (Raskol) em uma qualidade de som absurda, graça à concentração de todos os músicos envolvidos em entregar o ritual mais fúnebre possível. O cenário representando uma igreja ortodoxa contribui muito para o resultado do produto visual.

O Батюшка consegue ser excitante ao utilizar os meios da Igreja  -  como estética, rituais etc  -  para mostrar o quão nefasto pode ser o fanatismo religioso. É uma metalinguagem: criticar a Igreja usando a própria Igreja.



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