Soundhouse BR: “La Bestia” chega ao
mercado 10 anos depois do seu antecessor, o “Ground Zero Conflict”. Por que
este intervalo tão grande entre um lançamento e outro?
Célio Jr: Foram muitos os percalços desde 2011, a começar
pelas mudanças de formação. Tivemos, no período, a troca de dois bateristas e
isso sempre toma muito tempo até firmar novo entrosamento e repassar as
músicas. No mesmo período nosso ex-baixista Valda foi pai, eu tive muitas
viagens a trabalho, enfim, compromissos que todos temos e que acabam sendo mais
prioritários que a banda. Em 2016 até chegamos a compor outros 3 sons e
gravamos um ensaio para ver o resultado, mas a conclusão foi que as músicas não
estavam soando do jeito que gostaríamos. Eliminamos e começamos tudo do zero.
Creio que a estratégia da banda agora seja mais focada em lançar pequenos
singles e EPs a cada dois ou três anos para se manter sempre ativa na mídia.
Acho que discos grandes se tornam muito mais demorados para produzir.
Cícero: Tivemos alguns motivos que
acarretaram essa demora, como mudança de formação, dificuldade para organizar
ensaios (integrantes moram em cidades vizinhas), etc. Além do que, a banda
sempre prezou em fazer algo de qualidade e dentro do nosso tempo, sem atropelar
as coisas.
Soundhouse BR: “La Bestia” foi
gravado entre junho e setembro de 2020 no estúdio Edgar Macoppi, em Rodeio/SC.
A pandemia atrapalhou o cronograma?
Célio Jr: A pandemia forçou a banda toda a estudar mais.
Eu particularmente me dediquei muito mais à guitarra do que de costume, já que
nunca fui um nerd no instrumento como o Alefer (risos). Isso ajudou porque no
estúdio a banda chegou completamente afiada, foi muito rápido pra gravar e
finalizar tudo. Isso comparado ao “Ground Zero Conflict” é um passo abissal,
pois praticamente gravamos oito músicas em um mês e meio, usando só finais de
semana.
Cícero: A pandemia na verdade
ajudou no cronograma (risos). Tínhamos show marcado e outros compromissos que
tiveram que ser adiados, com isso, nos organizamos para que durante esse
período de pandemia pudéssemos ensaiar bem as músicas para poder entrar em
estúdio.
Soundhouse BR: O salto de qualidade técnico, tanto na
composição quanto na produção, em “La Bestia” é visível. Em 2017 a banda entrou
em um hiato programado para a compor o disco. Como esse tempo de união da banda
fora dos palcos impactou na qualidade do disco?
Cícero: Em um processo de composição toda a banda tem que
estar engajada, em todos os sentidos. Nesse período montamos as estruturas das
músicas, fomos atrás de locais para gravação, procuramos uma boa assessoria de
imprensa e até montamos um cronograma de todos os processos da gravação.
Acredito que por isso as coisas estão funcionando do jeito que planejamos e o
cd está sendo bem aceito.
Alefer: Na banda sofremos um pouco
com o problema de distância entre os integrantes, todos têm seus compromissos
pessoais, e nem sempre deu para manter uma rotina de ensaios frequentes. Então
foi melhor focar apenas no disco para finalizar o mais rápido possível, pois
era algo que já era para ter sido feito antes. Dessa forma conseguimos nos
dedicar mais e ter um resultado bem satisfatório.
Soundhouse BR: Este hiato
serviu para que “La Bestia” seja o álbum mais democrático do Juggernaut no que
diz respeito à contribuição de todos na hora de compor?
Célio Jr: Todos os integrantes auxiliaram no processo,
embora a parte lírica da banda sempre estivesse centrada em mim e no Cícero.
Mas nesse álbum o nosso baterista contribuiu muito, pois ele tem uma boa noção
de instrumentos de corda também e acabou compondo riffs matadores.
Cícero: Isso mesmo, cada música
tem sua particularidade. Todos os integrantes tiveram liberdade para compor e
expor suas ideias, não que isso não aconteceu nos anteriores, mas nesse ficou
mais evidente.
Soundhouse BR: Diante de todo
esse crescimento técnico na composição e produção, e maior participação de
todos da banda durante o processo, vocês consideram “La Bestia” o trabalho mais
homogêneo do Juggernaut?
Célio Jr: Como fundador da banda eu tenho absoluta certeza
que sim. Acho que consolidou uma sonoridade e timbre que a banda sempre buscou.
Usamos nosso equipamento de palco nas gravações para soar o mais próximo do que
a banda é ao vivo. Sem sampler, sem trigger, sem simulador de guitarra, nada
disso. Tudo no microfone, bateria que o Alefer usa nos shows, tudo o mais
natural possível.
Cícero: No meu ponto de vista sim,
apesar de que no “Ground Zero Conflict” que foi quando entrei na banda, o CD já
estava com todas as composições e letras prontas.
Soundhouse BR: Outra música
que me chamou atenção foi “Hollow Surface”, que no seu miolo me lembrou muito a
banda sueca Ophthalamia com as bases soladas e cadenciadas. O que você pode nos
dizer sobre esta música?
Célio Jr: Essas bases “soladas” eu criei completamente
influenciado por Dream Theater. Inclusive essa é uma das maiores influências da
banda e sempre foi minha banda do coração.
Alefer: Confesso que não conheço
Ophthalamia, vou ter que dar uma pesquisada. Hollow Surface no instrumental tem
influências de Death, Symphony X, Rush, e um final bem Dream Theater. Acho que
dá para sacar bem essas influências enquanto se ouve cada parte da música.
Soundhouse BR: O maior
destaque do disco certamente é a faixa-título, que por vezes flerta com o death
metal graças aos riffs pesadíssimos e bateria veloz. No entanto, o maior
chamariz é a letra em português/espanhol que aborda o sofrimento dos imigrantes
latinos para os Estados Unidos. Como surgiu a ideia da letra em
português/espanhol? A banda planeja compor mais músicas em português?
Célio Jr: Eram dois desejos antigos. Compor uma música
usando guitarra de 7 cordas e escrever uma letra em português. Deu tudo certo e
conseguimos criar as duas coisas numa música só. O tema é muito atual, a banda
sempre flertou com temas bem atuais do mundo e nada melhor nesse cenário de
polarização política do que fazer uma grande crítica a tudo que se sujeitam
nossos irmãos latinos. E obviamente lembrar que, como brasileiros, somos
latinos também.
Alefer: Única música do disco com
guitarra de 7 cordas, ficou bem puxado para o Death Metal mesmo. Eu sou
totalmente a favor de surgirem mais músicas em português, escuto muitas bandas
que fazem isso (Taurus, Anthares, Cavaleiro Dragão, Cemitério, etc).
Soundhouse BR: O cover de “We
Built This City”, do Starship, ficou muito legal! Como este inusitado cover foi
parar em um disco de Thrash Metal?
Célio Jr: Já haviam surgido ideias para fazer várias
versões de outras músicas. Eu num churrasco de Domingo estava ouvindo uma das
minhas várias playlists de pop anos 80/90 (que eu adoro e não tenho vergonha
nenhuma de assumir) e comecei a ouvir “Nothing’s Gonna Stop Us Now” do
Starship, banda que não ouvia a tempos. Aí lembrei de “We Built this city”,
pois fiquei imaginando aquele coral de vozes sendo executado numa versão metal.
Mandei uma mensagem no nosso grupo do Whatsapp, o Valda (ex-baixista) comprou a
ideia e ficou fácil convencer nossos nobres colegas a gravar a versão.
Soundhouse BR: O álbum está
disponível nas plataformas digitais de streaming como Spotify, iTunes, Deezer e
Amazon Music. Vocês trabalham para o lançamento de “La Bestia” em formato
físico?
Alefer: Sim, queremos lançar em formato de digipack. Já
recebemos mensagens de selos interessados, porém estamos atrás de outros para
ter parcerias e uma divisão melhor de custos. Muito provável que isso aconteça
nos próximos meses.
Soundhouse BR: Obrigado pela
entrevista! O espaço para o recado final é de vocês.
Célio Jr: Muito obrigado pela entrevista e pelo suporte.
Perguntas bem sacadas e feitas por quem realmente ouviu o álbum muitas vezes.
Agradecemos de coração. Não deixem de acompanhar a banda nas plataformas
digitais, prometo que não vamos demorar 10 anos novamente para lançar um novo
álbum (risos).
Cícero: Agradecemos o espaço pela
entrevista e esperamos o mais breve estar subindo aos palcos para mostrar nossa
nova formação e as novas músicas sendo executadas ao vivo.
Alefer: Obrigado pelo espaço e
pelas ótimas perguntas, é muito legal respondê-las e falar mais sobre nosso
novo álbum. Sucesso e grande abraço!
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