Juggernaut lança o rápido, pesado e técnico disco La Bestia. Confira a entrevista!


Por Diego Cataldo
Com colaboração de Andreza Gonçalves

Formado em 2005 pelo guitarrista Célio Jr em Blumenau/SC, a Juggernaut executa um thrash metal com influências de Death, Sadus e Destruction ao mesmo tempo em que flerta com o rock e o progressivo com bandas como Dream Theater, Marillion e Rush. Após a boa repercussão da primeira demo lançada ainda em 2005, a banda lançou seu debut intitulado Lines Of The Edge em novembro de 2006. O segundo álbum chamado Ground Zero Conflit saiu em agosto de 2011. Depois de um longo período sem um material inédito e com a formação totalmente reformulada - Cicero (vocal), Fabrício (baixo), Alefer (bateria) e Célio Jr. (guitarras) -, a Juggernaut lançou em janeiro La Bestia, seu terceiro trabalho de estúdio. Conversei com Célio Jr., Cícero e Alefer para falar sobre este novo álbum. Confira! 

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Soundhouse BR: “La Bestia” chega ao mercado 10 anos depois do seu antecessor, o “Ground Zero Conflict”. Por que este intervalo tão grande entre um lançamento e outro?
Célio Jr: Foram muitos os percalços desde 2011, a começar pelas mudanças de formação. Tivemos, no período, a troca de dois bateristas e isso sempre toma muito tempo até firmar novo entrosamento e repassar as músicas. No mesmo período nosso ex-baixista Valda foi pai, eu tive muitas viagens a trabalho, enfim, compromissos que todos temos e que acabam sendo mais prioritários que a banda. Em 2016 até chegamos a compor outros 3 sons e gravamos um ensaio para ver o resultado, mas a conclusão foi que as músicas não estavam soando do jeito que gostaríamos. Eliminamos e começamos tudo do zero. Creio que a estratégia da banda agora seja mais focada em lançar pequenos singles e EPs a cada dois ou três anos para se manter sempre ativa na mídia. Acho que discos grandes se tornam muito mais demorados para produzir.

Cícero: Tivemos alguns motivos que acarretaram essa demora, como mudança de formação, dificuldade para organizar ensaios (integrantes moram em cidades vizinhas), etc. Além do que, a banda sempre prezou em fazer algo de qualidade e dentro do nosso tempo, sem atropelar as coisas.

Soundhouse BR: “La Bestia” foi gravado entre junho e setembro de 2020 no estúdio Edgar Macoppi, em Rodeio/SC. A pandemia atrapalhou o cronograma?
Célio Jr: A pandemia forçou a banda toda a estudar mais. Eu particularmente me dediquei muito mais à guitarra do que de costume, já que nunca fui um nerd no instrumento como o Alefer (risos). Isso ajudou porque no estúdio a banda chegou completamente afiada, foi muito rápido pra gravar e finalizar tudo. Isso comparado ao “Ground Zero Conflict” é um passo abissal, pois praticamente gravamos oito músicas em um mês e meio, usando só finais de semana.

Cícero: A pandemia na verdade ajudou no cronograma (risos). Tínhamos show marcado e outros compromissos que tiveram que ser adiados, com isso, nos organizamos para que durante esse período de pandemia pudéssemos ensaiar bem as músicas para poder entrar em estúdio.
 
Soundhouse BR: O salto de qualidade técnico, tanto na composição quanto na produção, em “La Bestia” é visível. Em 2017 a banda entrou em um hiato programado para a compor o disco. Como esse tempo de união da banda fora dos palcos impactou na qualidade do disco?
Cícero: Em um processo de composição toda a banda tem que estar engajada, em todos os sentidos. Nesse período montamos as estruturas das músicas, fomos atrás de locais para gravação, procuramos uma boa assessoria de imprensa e até montamos um cronograma de todos os processos da gravação. Acredito que por isso as coisas estão funcionando do jeito que planejamos e o cd está sendo bem aceito.

Alefer: Na banda sofremos um pouco com o problema de distância entre os integrantes, todos têm seus compromissos pessoais, e nem sempre deu para manter uma rotina de ensaios frequentes. Então foi melhor focar apenas no disco para finalizar o mais rápido possível, pois era algo que já era para ter sido feito antes. Dessa forma conseguimos nos dedicar mais e ter um resultado bem satisfatório.

Soundhouse BR: Este hiato serviu para que “La Bestia” seja o álbum mais democrático do Juggernaut no que diz respeito à contribuição de todos na hora de compor?
Célio Jr: Todos os integrantes auxiliaram no processo, embora a parte lírica da banda sempre estivesse centrada em mim e no Cícero. Mas nesse álbum o nosso baterista contribuiu muito, pois ele tem uma boa noção de instrumentos de corda também e acabou compondo riffs matadores.

Cícero: Isso mesmo, cada música tem sua particularidade. Todos os integrantes tiveram liberdade para compor e expor suas ideias, não que isso não aconteceu nos anteriores, mas nesse ficou mais evidente.

Soundhouse BR: Diante de todo esse crescimento técnico na composição e produção, e maior participação de todos da banda durante o processo, vocês consideram “La Bestia” o trabalho mais homogêneo do Juggernaut?
Célio Jr: Como fundador da banda eu tenho absoluta certeza que sim. Acho que consolidou uma sonoridade e timbre que a banda sempre buscou. Usamos nosso equipamento de palco nas gravações para soar o mais próximo do que a banda é ao vivo. Sem sampler, sem trigger, sem simulador de guitarra, nada disso. Tudo no microfone, bateria que o Alefer usa nos shows, tudo o mais natural possível.

Cícero: No meu ponto de vista sim, apesar de que no “Ground Zero Conflict” que foi quando entrei na banda, o CD já estava com todas as composições e letras prontas.


Soundhouse BR: “Terror Isis Squad” e “Puppets Of Society” abrem o disco em uma dobradinha muito interessante e ambas apresentam um discurso muito forte. Qual o conceito lírico destas músicas e do álbum como um todo?
Cícero: Na “Terror Isis Squad” eu quis abordar o que somos acostumados a ver no Oriente Médio e nas regiões próximas: guerras e conflitos por disputa de territórios e riquezas naturais (nesse caso o petróleo). Já na “Puppets” o conceito que quis abordar é no fato de que muitas pessoas parecem viver em uma “bolha”, acreditando nas promessas políticas e até mesmo religiosas como a única salvação. Em resumo, apesar de serem temas distintos, as letras se coincidem no sentido de que a nossa existência parece ter dias contados por conta da imbecilidade humana.

Soundhouse BR: Outra música que me chamou atenção foi “Hollow Surface”, que no seu miolo me lembrou muito a banda sueca Ophthalamia com as bases soladas e cadenciadas. O que você pode nos dizer sobre esta música?
Célio Jr: Essas bases “soladas” eu criei completamente influenciado por Dream Theater. Inclusive essa é uma das maiores influências da banda e sempre foi minha banda do coração.

Alefer: Confesso que não conheço Ophthalamia, vou ter que dar uma pesquisada. Hollow Surface no instrumental tem influências de Death, Symphony X, Rush, e um final bem Dream Theater. Acho que dá para sacar bem essas influências enquanto se ouve cada parte da música.

Soundhouse BR: O maior destaque do disco certamente é a faixa-título, que por vezes flerta com o death metal graças aos riffs pesadíssimos e bateria veloz. No entanto, o maior chamariz é a letra em português/espanhol que aborda o sofrimento dos imigrantes latinos para os Estados Unidos. Como surgiu a ideia da letra em português/espanhol? A banda planeja compor mais músicas em português?
Célio Jr: Eram dois desejos antigos. Compor uma música usando guitarra de 7 cordas e escrever uma letra em português. Deu tudo certo e conseguimos criar as duas coisas numa música só. O tema é muito atual, a banda sempre flertou com temas bem atuais do mundo e nada melhor nesse cenário de polarização política do que fazer uma grande crítica a tudo que se sujeitam nossos irmãos latinos. E obviamente lembrar que, como brasileiros, somos latinos também.

Alefer: Única música do disco com guitarra de 7 cordas, ficou bem puxado para o Death Metal mesmo. Eu sou totalmente a favor de surgirem mais músicas em português, escuto muitas bandas que fazem isso (Taurus, Anthares, Cavaleiro Dragão, Cemitério, etc).

Soundhouse BR: O cover de “We Built This City”, do Starship, ficou muito legal! Como este inusitado cover foi parar em um disco de Thrash Metal?
Célio Jr: Já haviam surgido ideias para fazer várias versões de outras músicas. Eu num churrasco de Domingo estava ouvindo uma das minhas várias playlists de pop anos 80/90 (que eu adoro e não tenho vergonha nenhuma de assumir) e comecei a ouvir “Nothing’s Gonna Stop Us Now” do Starship, banda que não ouvia a tempos. Aí lembrei de “We Built this city”, pois fiquei imaginando aquele coral de vozes sendo executado numa versão metal. Mandei uma mensagem no nosso grupo do Whatsapp, o Valda (ex-baixista) comprou a ideia e ficou fácil convencer nossos nobres colegas a gravar a versão.

Soundhouse BR: O álbum está disponível nas plataformas digitais de streaming como Spotify, iTunes, Deezer e Amazon Music. Vocês trabalham para o lançamento de “La Bestia” em formato físico?
Alefer: Sim, queremos lançar em formato de digipack. Já recebemos mensagens de selos interessados, porém estamos atrás de outros para ter parcerias e uma divisão melhor de custos. Muito provável que isso aconteça nos próximos meses.

Soundhouse BR: Obrigado pela entrevista! O espaço para o recado final é de vocês.
Célio Jr: Muito obrigado pela entrevista e pelo suporte. Perguntas bem sacadas e feitas por quem realmente ouviu o álbum muitas vezes. Agradecemos de coração. Não deixem de acompanhar a banda nas plataformas digitais, prometo que não vamos demorar 10 anos novamente para lançar um novo álbum (risos).

Cícero: Agradecemos o espaço pela entrevista e esperamos o mais breve estar subindo aos palcos para mostrar nossa nova formação e as novas músicas sendo executadas ao vivo.

Alefer: Obrigado pelo espaço e pelas ótimas perguntas, é muito legal respondê-las e falar mais sobre nosso novo álbum. Sucesso e grande abraço!

 

 


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