"The Mandrake Project" (via BMG) nem havia sido lançado e as opiniões sobre o novo álbum solo de Bruce Dickinson eram variadas, indo de "medíocre" a "nota 10" com a mesma velocidade de uma Ferrari indo de 0 a 100km/h - e tudo baseado apenas nos singles Afterglow of Ragnarok e Rain on the Graves. O delírio era até compreensível, afinal, os fãs aguardaram ansiosamente por quase 20 anos por um novo trabalho do Mr. Air-Raid Siren.
Acompanhado por Roy Z (braço direito, produtor e guitarrista), Dave Moreno (bateria), Tanya O'Callaghan (baixo) e o Maestro Mistheria (teclados), Dickinson rompe com o óbvio. Enquanto seria natural para o vocalista criar uma sequência para a tríade "Accident of Birth" (1997), "The Chemical Wedding" (1998) e "Tyranny of Souls" (2005), Bruce aposta em uma sonoridade mais obscura voltada ao classic/hard rock/prog dos anos 1970 em "The Mandrake Project".
Essa aposta permite a Dickinson explorar nuances além das características que têm definido o som do Iron Maiden recentemente. Em vez de músicas extremamente longas e com uma estrutura pré-moldada, Bruce direciona seu olhar para novos horizontes e incorpora elementos que remetem a Pink Floyd, como na experimental Sonata (Immortal Beloved), e Black Sabbath, como em Shadow of the Gods e na surpreendente e poderosa Resurrection Man.
Na faixa Rain on the Graves, Dickinson assume uma persona teatral e "canastrona", interpretando um diálogo entre um Padre e o Diabo. A música carrega uma atmosfera de horror rock, claramente influenciada pela estética musical de Alice Cooper. Por outro lado, Afterglow of Ragnarok peca em seu desenvolvimento, embora se sustente como música graças ao excelente riff principal. E mesmo que não seja de outro mundo, Fingers in the Wounds poderia integrar o álbum "Balls To Picasso" (1994). Vale atentar-se a reflexão proposta pela letra.
Para os mais ortodoxos, "The Mandrake Project" reserva dois momentos especiais: a versão original de Eternity Has Failed, previamente lançada pelo Iron Maiden em 2015 no álbum "The Book of Souls". Apesar das mudanças sutis no título e algumas alterações na letra, é interessante observar que a banda liderada por Steve Harris preservou integralmente a estrutura da música. Outro destaque é Mistress of Mercy, uma composição que facilmente poderia integrar o repertório da Donzela ou mesmo figurar nos clássicos álbuns solo do vocalista.
Para mim, o ponto alto de "The Mandrake Project" é a faixa Many Doors to Hell. Completamente imersa no classic/hard rock com influências de Dio e Scorpions e dotada de um refrão apoteótico, essa música evidencia por que Bruce Dickinson ostenta o status que tem. Ela se destaca de forma expressiva na tracklist, sendo indiscutivelmente a melhor do álbum. E ah, antes que reclamem da falta de uma baladinha, Face in the Mirror é uma maravilha!
"The Mandrake Project" está longe de ser medíocre, porém também não alcança o patamar de um clássico. No entanto, é indiscutivelmente um disco que merece o selo de qualidade Bruce Dickinson.
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