Uma das bandas mais extremas da atualidade, o Gaerea reivindica o que lhe é de direito: o posto de representante máximo da escuridão na Terra. Terceiro álbum de estúdio dos portugueses encapuzados, Mirage (via Season Of Mist/Relics Discos) é uma artefato de adoração ao vazio através do catártico black metal frio e niilista praticado pela banda.
Envolto em tecidos negros como o céu da noite, o Gaerea perfura a carne humana com uma música altamente caótica e estridente. Música esta criada para causar dor e sofrimento através do flagelo provocado por riffs agoniantes e uma atmosfera claustrofóbica graças aos urros doentios que ecoam ao longo do disco.
O talento do Gaerea está em nos conduzir pelo paradoxo da beleza no vazio. Enquanto para muitos o nada é somente o nada, o quinteto português nos guia para introspecção neste vazio existencial. Lá, a desolação e a escuridão são as melhores companhias.
A porta para o vazio se abre com Memorir, uma música cheia de nuances e que funciona como uma ótima faixa de abertura. Aflitiva do primeiro ao último minuto, a canção reúne momentos melódicos e uma brutalidade que ultrapassa o bom senso humano. Salve, que foi divulgada como single, tem como destaque os riffs que funcionam como uma faca afiada pronta para agir.
O disco segue com a perturbadora e intensa Deluge e a obra-prima Arson. Com um pé no post-black, esta certamente estará na lista de melhores músicas já escritas pelo Gaerea. A sequência com Ebb é uma passada pelo black metal convencional sem deixar de lado toda a estrutura sufocante característica da banda. Mirage, a faixa-título, é a prova clara que como os portugueses conseguem transformar desolação em algo belo.
Se até aqui o disco já se mostrava uma peça única da obscuridade, o final com a visceral Mantle e a triunfante Laude fecha o disco provando que melancolia, sutileza e caos convivem de forma harmoniosa neste imenso universo vazio criado pela música do Gaerea.
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