Lançado em 1º de outubro de 1990, No Prayer for the Dying define um momento de ruptura e transição na carreira do Iron Maiden. Após uma sequência de álbuns que colocou o quinteto no Olimpo do heavy metal dos anos 1980 — The Number of the Beast (1982), Piece of Mind (1983) Powerslave (1984), Somewhere in Time (1986) e Seventh Son of a Seventh Son (1988) — a banda britânica entrou na nova década em busca de um som mais simplificado, que se adaptasse a um cenário musical em transformação.
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O início dos anos 1990 foi um período de mudanças no rock e no metal. O glam metal, dominante até então, começava a perder fôlego; enquanto o grunge nascia em Seattle e apresentava ao mundo bandas como Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains. Paralelamente, o thrash metal atingia a maturidade com o Metallica, Slayer e Megadeth.
>>> Sound Classic: Slayer — Show No Mercy (1983)
>>> Sound Classic: Metallica — Kill 'Em All (1983)
Nesse cenário, os já considerados "dinossauros" do heavy metal tradicional dos anos 1980, como Judas Priest, Ozzy Osbourne e o próprio Iron Maiden, passaram a enfrentar um dilema: como se reinventar sem perder a identidade? No Prayer for the Dying foi a tentativa do Maiden de responder a essa pergunta.
Sucessor de Seventh Son of a Seventh Son (1988), que havia levado o Maiden a patamares quase sinfônicos com suas composições complexas e uso de teclados, No Prayer for the Dying abandonou as paisagens sonoras épicas, em favor de uma abordagem mais direta. Esta abordagem, quase "garageira", resgatava os primórdios da banda pelos pubs no circuito londrino.
>>> Sound Classic: Iron Maiden — The Number of the Beast (1982)
>>> Sound Classic: Iron Maiden — Piece of Mind (1983)
>>> Sound Classic: Iron Maiden — Seventh Son of a Seventh Son (1988)
Mas a ideia de abandonar os elementos progressivos, adotar uma sonoridade mais crua e resgatar a essência dos primeiros anos custou caro. O guitarrista Adrian Smith, insatisfeito com essa direção, considerada por ele como um retrocesso, decidiu deixar o grupo antes das gravações — vale mencionar que Smith chegou a contribuir com a faixa "Hooks in You" para o disco.
No lugar dele, entrou Janick Gers, guitarrista que já havia tocado com Ian Gillan (Deep Purple) e na carreira solo de Bruce Dickinson. Gers trouxe um estilo mais visceral e energético para a banda, mas seu jeito de tocar mais "sujo" sem a mesma classe e o refinamento técnico de Smith não foi tão bem recebido por uma parcela dos fãs.
No Prayer for the Dying foi o primeiro álbum do Iron Maiden gravado fora de estúdios tradicionais. A banda alugou o Rolling Stone Mobile Studio e o montou em um celeiro na propriedade de Steve Harris. A produção, assinada por Martin Birch, reflete a proposta para o disco: os arranjos são enxutos, a mixagem é mais seca, e há um tom mais cru em toda a execução.
Musicalmente, No Prayer for the Dying oscila entre bons momentos e faixas esquecíveis. “Tailgunner”, "Holy Smoke", a faixa-título, "Public Enema Number One", "Run Silent Run Deep" (embora Dickinson afirme ser uma música ruim) e “Mother Russia” garantem uma boa diversão durante a audição. No entanto, "Fates Warning" e "The Assassin" são fortes candidatas às piores do disco.
O maior sucesso do álbum, “Bring Your Daughter... to the Slaughter”, ironicamente, não nasceu para o Iron Maiden — foi escrita originalmente por Bruce Dickinson como trilha sonora para o filme A Nightmare On Elm Street 5: The Dream Child, de 1989. Mesmo assim, foi alçada ao topo das paradas britânicas, tornando-se o primeiro (e único) single da banda a alcançar o primeiro lugar no Reino Unido. "Holy Smoke", também lançada como single, chegou ao terceiro lugar.
Em termos comerciais, No Prayer for the Dying até teve um bom desempenho nas paradas ao redor do mundo. No Reino Unido, o disco chegou ao segundo lugar nos charts oficiais. Na badalada lista Billboard 200, nos Estados Unidos, o álbum figurou no 17º lugar. Finlândia, Noruega e Suécia colocaram no trabalho no Top 10.
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No Prayer for the Dying é o retrato de uma banda tentando descer do Olimpo para caminhar entre os mortais — e tropeçando no processo. Ao escolher pelo rompimento com o virtuosismo épico da década anterior, o Iron Maiden mostrou que ainda estava disposto a arriscar, mesmo que o preço fosse a perda momentânea do prestígio conquistado com muito suor. Não é um desastre absoluto, mas está longe da excelência à qual a Donzela havia acostumado seus fãs.
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