Nos primeiros anos da década de 1980, quando bandas como Iron Maiden, Judas Priest e Motörhead dominavam o cenário do heavy metal, um grupo de jovens fãs de metal forjava algo novo na Baía de São Francisco, na Califórnia (EUA). Foi assim, meio discretamente, que o thrash metal nasceu. Em 1983, o Metallica deu um gostinho desse som com Kill 'Em All. No entanto, no final daquele mesmo ano, o mundo foi apresentado a um dos álbuns mais intensos do estilo. Em 3 de dezembro de 1983, o Slayer lançou Show No Mercy, seu primeiro álbum.
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A história do Slayer e do Show No Mercy começou a ser escrita lá por 1981, em Huntington Park. Naquela época, os guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman tiveram a ideia de montar uma banda. Só que faltava um baixista, um vocalista e um baterista. Eles resolveram os primeiros problemas chamando Tom Araya, que assumiu o baixo e o microfone. Dave Lombardo entrou como baterista em 1982. Dois nomes foram postos à mesa para nomear a nova banda: Wings Of Fire e Slayer. Felizmente optaram pelo segundo!
Slayer em 1982 (Foto: Divulgação) |
Trivia: Araya era o mais velho de todos. Com 20 anos na época, mantinha um trabalho regular como terapeuta respiratório. Hanneman e King tinham 17. O primeiro era funcionário de um estúdio de ensaios e o segundo já era guitarrista full-time. O caçula, Lombardo, tinha 16 anos e entregava pizzas pelo bairro.
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Curiosamente, os primeiros passos do Slayer foram dados tocando covers de Judas Priest e Iron Maiden em pequenos clubes pela Califórnia. Numa dessas noites, o quarteto chamou a atenção de ninguém menos que Brian Slagel, fundador da Metal Blade Records. Impactado com a performance da banda durante a execução de Phantom Of The Opera, do Maiden, o executivo convidou-os para participar da coletânea Metal Massacre III. Mas com uma condição: deveria ser com uma composição própria.
O pedido de Slagel foi atendido, e o Slayer compôs Agressive Perfector para a coletânea. O resultado agradou tanto o chefe que Brian propôs à banda um contrato para a gravação de um full-lenght. Naquela fase, mesmo mantendo raízes na NWOBHM, o Slayer havia abraçado o thrash metal como "estilo principal", com a proposta de tocar um som mais pesado e mais rápido do que o habitual. Nesse mesmo período duas demos foram lançadas: Satan's Childrens e Reh. Demo.
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Mas como a vida não é um morango, o contrato com a Metal Blade tinha um problema: o acordo não previa que o selo arcasse com as despesas das gravações. Ou seja, a banda teria que arcar com todos os custos do processo. A alternativa foi caseira: Araya colocou na mesa todas as economias que tinha guardado enquanto exerceu a profissão de terapeuta respiratório, e o pai de King chegou junto com um empréstimo.
Foto: Metal Blade |
Com o entrave financeiro resolvido, o Slayer se mandou para Hollywood e deu início às gravações do álbum em novembro de 1983. O estúdio escolhido foi o Track Records Studio. Assim como aconteceu com inúmeras bandas que davam seus primeiros passos, o Slayer teve três semanas para gravar, mixar e masterizar o álbum. Mesmo com toda a correria e curto prazo, Show No Mercy foi lançado em 3 de dezembro de 1983.
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A tosca - porém assustadora - capa assinada por Lawrance R. Reed era um indicativo de que coisas assombrosas estavam por vir. Se a musicalidade ainda preservava muitas nuances do metal tradicional, do speed e do thrash, era na estética e nas letras que o bicho pegava. Transgressor ao extremo, o Slayer foi fundo no satanismo e no anti-cristianismo. Se hoje as letras parecem coisas de adolescentes - e eram, né? -, na época foi o suficiente para perpetrar o caos na sociedade conservadora.
Foto: Metal Blade |
Voltando às faixas, é impressionante a influência do metal tradicional em Show No Mercy. Músicas como The Antichrist, Die by the Sword, Metal Storm/Face the Slayer, Black Magic, Tormentor, The Final Command e Crionics (a mais NWOBHM de todas) parecem ter cruzado o Atlântico vindas de Londres diretamente para a Califórnia. Por outro lado, pérolas como Evil Has No Boundaries, Fight till Death e a faixa-título Show No Mercy apresentavam elementos de thrash que passariam a ser regra na sonoridade do Slayer.
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Numa época em que tudo era feito no boca a boca, Show No Mercy se tornou o maior sucesso comercial da Metal Blade. Estima-se que só nos Estados Unidos o álbum vendeu cerca de 20 mil cópias (em um total de 40 mil contando as vendas ao redor do mundo).
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O Slayer chegou sem mostrar misericórdia. O Inferno os esperava. A chuva de sangue iria começar...
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