Review: "Cycles of Pain" - Angra


Tenho a impressão de que o Angra é uma banda que provoca reações intensas: ou você ama ou você odeia. No entanto, reconheço que essa percepção pode ser subjetiva, uma vez que minha relação com a banda oscila entre esses extremos. Há dias em que eu os amo pelo que produziram nos primeiros anos, até 2005. Porém, em outros momentos, sinto um ódio por ver na banda um potencial subutilizado, seja devido a questões de gestão inadequada ao longo dos anos, conflitos internos ou à acomodação das lideranças.

Quando Ømni foi lançado, dei o braço a torcer e reacendi meu interesse pela banda. Estávamos em lua de mel. Embora o álbum não seja uma Brastemp, ele tem o seu valor. Agora, cinco anos depois, Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) nos presenteiam com o muito aguardado Cycles of Pain, lançado pelas gravadoras Atomic Fire, Voice Music e Valhall Music.

E por que iniciei este texto abordando a ideia de uma relação de amor e ódio? Bem, as primeiras resenhas publicadas sobre o álbum apontavam nessa direção. A base de fãs considerou Cycles of Pain o melhor trabalho do Angra em anos. Já a mídia especializada mostrou opiniões divergentes: enquanto algumas resenhas classificaram o disco como monótono e um possível ponto fraco na trajetória da banda, outras adotaram uma perspectiva oposta, repletas de elogios.

Chegou, enfim, minha vez de ouvir o álbum. 

A dualidade que envolve o álbum Cycles of Pain é, sem dúvida, o cerne da questão. Tecnicamente, o trabalho é uma demonstração de virtuosismo impressionante, em que os músicos exibem o notório e conhecido domínio completo de seus instrumentos. Cada nota é executada com precisão, as composições são elaboradas e as estruturas intrincadas mostram a habilidade da banda em se aventurar num território tão complexo.

No entanto, conforme o disco avança, torna-se evidente a ausência de algo fundamental: feeling. A música, por mais técnica que seja, carece da emoção que costumava ser uma marca registrada do Angra - embora a temática do disco gire em torno de emoções profundas. Em alguns momentos ela soa fria e distante, como se os músicos estivessem tão ocupados exibindo suas habilidades técnicas que se esqueceram de tocar com a alma.

Além disso, a falta de originalidade é outro ponto a ser citado. O prog/power metal é um gênero que abriga inúmeras bandas, e infelizmente, Cycles of Pain não se destaca o suficiente para colocar o Angra numa posição de vantagem com relação às outras. O álbum parece seguir uma fórmula previsível, sem trazer muita inovação ou frescor ao gênero.

Cycles of Pain é um álbum que brilha em termos técnicos, mas escurece quando se trata de emoção e originalidade. Enquanto alguns podem apreciar a maestria instrumental da banda, outros podem se sentir desconectados da música devido à falta de profundidade emocional e criatividade. No final, minha relação de amor e ódio com o Angra continua, com este novo álbum sendo mais um capítulo nessa montanha-russa de emoções.

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