Em novembro de 2017, o Moonspell lançou o álbum 1755. O disco, décimo terceiro na discografia da banda, narra a história da maior tragédia vivida por Portugal: o Grande Terremoto de Lisboa (também conhecido como Terremoto de 1755 ou Sismo de 1755), um evento sísmico de proporções catastróficas que quase varreu a cidade de Lisboa do mapa.
>> Ouça o álbum 1755, do Moonspell, aqui.
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Portugal alcançou o status de potência global graças ao vasto império colonial que se estendia por diversas partes do mundo, especialmente no Brasil, na África Continental e na Ásia. No entanto, no século XVIII, a Coroa Portuguesa dava indícios claros de que estava entrando em um período de declínio. Nesse cenário, cabia a Lisboa, a capital do reino, manter uma posição de vanguarda como uma cidade cosmopolita de economia próspera, destacando-se pela riqueza e pela influência da corte.
O TERREMOTO
Fervorosamente religiosa, a metrópole se preparava para a celebração do Dia de Todos os Santos. Lisboa estava bela, e os lisboetas lotaram as ruas, praças e igrejas da cidade na manhã do dia 1º de novembro de 1755. Mas, entre 9h30 e 9h40 da manhã, um abalo sísmico de grandes proporções (estudos indicam magnitude entre 8,5 e 9 na Escala Richter, ou seja, o grau mais alto), com epicentro no Oceano Atlântico, no sudoeste de Portugal, fez Lisboa tremer como nunca antes na História. Construções foram abaixo. Aqueles que sobreviveram ao primeiro tremor buscaram abrigo em uma praça próxima ao rio Tejo. Testemunha ocular dos fatos, o Reverendo Charles Davy descreveu a cena:
O sol estava brilhando em todo o seu esplendor. Toda a face do céu estava perfeitamente serena e clara; e não havia o menor sinal de alerta daquele evento que se aproximava, que fez desta cidade, outrora florescente, opulenta e populosa, uma cena do maior horror e desolação.
Ele [o tsunami] veio espumando, rugindo e correu em direção à margem com tanta energia que imediatamente corremos para salvar nossas vidas, o mais rápido que podíamos.
Conforme anoitecia, o reverendo percebeu que a metrópole brilhava de um jeito diferente. Velas acesas nas igrejas para a celebração do Dia de Todos os Santos fizeram Lisboa também arder em chamas. E assim ele descreveu aquele momento:
Assim que escureceu, toda a cidade parecia brilhar, com uma luz tão forte que dava para ler. Pode-se dizer, sem exagero, que houve incêndios em pelo menos cem lugares ao mesmo tempo e continuou como isso por seis dias, sem interrupção.
Lisboa foi consumida pela terra, pela água e pelo fogo naquele 1º de novembro de 1755. A outrora pulsante capital - uma das maiores cidades europeias na época - quase foi reduzida a pó. O número de mortos é impreciso, mas uma projeção aponta que até 50 mil pessoas podem ter perdido a vida naquele fatídico dia. No entanto, o Grande Terremoto de Lisboa mudou a percepção da sociedade com relação à desastres naturais e desencadeou profundos debates filosóficos e religiosos.
A RECONSTRUÇÃO
O terremoto, o tsunami e o incêndio, além de ceifar vidas, destruiu cerca de 85% da cidade. Igrejas, palácios, teatros, prédios públicos e casas foram abaixo. Após o desastre, a Coroa Portuguesa deu início a um grande plano de reconstrução de Lisboa. O escolhido pelo rei D. José I para liderar o projeto foi Sebastião José de Carvalho e Melo, secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino de Portugal, o famoso Marquês de Pombal.
Figura proeminente, Carvalho e Melo teve como primeira preocupação evitar que doenças se proliferassem por causa dos mortos. Assim, em uma grande ação, pessoas foram enterradas em valas comuns, queimadas em grandes fogueiras e jogadas ao mar amarradas com pesos amarrados ao corpo para que afundassem.
Apesar de ser uma grande cidade, Lisboa ainda tinha arquitetura medieval com ruas estreitas, becos e construções desordenadas. Na reconstrução, foram implementadas inovações urbanísticas, como a criação de ruas mais largas, a regularização dos quarteirões e a imposição de regras de construção mais seguras. A arquitetura barroca foi substituída por um estilo mais austero (apesar da Igreja ter gozado de um certo privilégio) e funcional.
Ao Marquês de Pombal também é creditado o surgimento da ciência sismológica. A forma com que Carvalho e Melo coletou informações para a reconstrução de Lisboa e prevenção de novos desastres fundou as bases para uma das ciências mais importantes no Planeta.
REFLEXÕES SOBRE DEUS
O Terremoto de Lisboa desencadeou intensos debates filosóficos e religiosos em toda a Europa. Filósofos Iluministas, como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, utilizaram a tragédia para questionar crenças religiosas e a natureza do sofrimento humano. Enquanto a Igreja buscava apontador culpados pelo ocorrido, Voltaire escreveu em Cândido (1759):
Depois do terremoto que destruiu três quartos de Lisboa, o meio mais eficaz que os sábios do país inventaram para evitar uma ruína total foi a celebração de um soberbo auto de fé [ritual de penitência pública], tendo a Universidade de Coimbra decidido que o espetáculo de algumas pessoas sendo queimadas em fogo lento com toda a solenidade é um segredo infalível para evitar tremores de terra.
Já o alemão Kant foi o primeiro filósofo a tentar explicar que o terremoto foi uma ação natural e não um ataque de fúria de Deus. A partir daí, a medida em que os três pensadores se manifestavam, o Iluminismo avançava e surgia uma nova forma de ver, questionar e interpretar o Mundo.
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O Grande Terremoto de Lisboa não impactou apenas Portugal. A catástrofe reverberou globalmente, impulsionando novas ciências, novos pensamentos e uma forma diferente de observar o Mundo. Para alguns estudiosos, foi a partir dos acontecimentos daquele 1º de novembro de 1755 que se iniciou a Era Moderna.
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REFERÊNCIAS:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-lisboa-terremoto-1755.phtml
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62453669
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/terremoto-lisboa-1755.htm
https://ensina.rtp.pt/artigo/o-terramoto-de-lisboa-de-1755/
https://jornal.usp.br/artigos/bastidores-do-terremoto-de-lisboa-265-anos-depois/
Bom texto! 👍🏽
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