Considerado o disco mais emblemático da carreira do Queensrÿche, Operation: Mindcrime é um trabalho conceitual que mistura rock progressivo, heavy metal e ópera para contar uma história de rebelião, corrupção e vingança. Lançado em maio de 1988, o álbum - terceiro de estúdio da banda - celebra 35 anos com o carimbo de um dos melhores na história do metal.
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A origem do Queensrÿche remonta ao início dos anos 1980. Amigos de escola em Seattle, os guitarristas Chris DeGarmo e Michael Wilton uniram forças com o baterista Scott Rockenfield e o baixista Eddie Jackson, e juntos montaram o The Mob. Convidados para o festival Metalfest '81, o quarteto não tinha um vocalista. E aí que entra Geoff Tate (à época do Myth), que foi convidado pela banda para a apresentação no festival. Em 1982 o quinteto adota no Queensrÿche, extraído da faixa Queen Of Reich.
A banda lança o primeiro EP autointitulado em 1983. O primeiro full, The Warning, foi disponibilizado em 1984. O trabalho rendeu uma excursão com datas na Europa, Japão - onde foi gravado o vídeo Live in Tokyo - e Estados Unidos. Rage for Order chegou às prateleiras em junho de 1986. Para promover o disco, o Queensrÿche saiu em turnê como banda de abertura para AC/DC, Ozzy Osbourne e Bon Jovi.
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Enquanto o mundo do heavy metal aguardava ansiosamente pelo "álbum conceitual" do Iron Maiden a ser lançado em abril de 1988, o Queensrÿche trabalhava na sua obra-prima. Intitulado Operation: Mindcrime, o disco transcendeu tudo que havia sido feito até então no metal no quesito trabalho conceitual. Uma nova era - e um novo marco - fora lançado.
Em entrevista ao jornalista Martin Popoff, Tate conta que a ideia para o álbum conceitual surgiu enquanto ele estava de férias em Montreal, no Canadá, e conheceu pessoas ligadas ao movimento separatista local.
“Quando a turnê [do álbum Rage for Order] acabou [em fevereiro de 1987], fui para Montreal para descansar. Enquanto estava lá, conheci algumas pessoas ligadas ao movimento pela independência do Quebec. Essas pessoas tentavam separar Quebec do Canadá. Eram sujeitos bem interessantes, embora muito extremistas. Após conhecê-los melhor, resolvi me associar a eles. E eu lhes contava sobre minhas experiências na última turnê. Uma noite, estava nevando e eu estava sem cigarros, então vesti todos os agasalhos que pude para descer até a esquina e comprar mais. Quando cheguei lá, vi uma igreja do outro lado da rua e senti uma vontade enorme de entrar lá. Entrei, me sentei, e estava olhando em volta e absorvendo todas aquelas imagens quando, de repente, essa ideia me surgiu na cabeça, e foi ficando cada vez mais forte, e todos aqueles versos começaram a pipocar um após o outro. Corri para casa e me pus a escrever, e em cerca de três horas havia delineado toda a história e escrito o primeiro verso e o refrão da música Operation: Mindcrime. Assim foi dado o pontapé inicial.”
O enredo do álbum segue o personagem principal chamado Nikki. Viciado em heroína, ele se junta a uma organização revolucionária liderada pelo misterioso Dr. X, que busca derrubar o sistema corrupto que governa a sociedade. No entanto, conforme a história se desenrola, Nikki começa a questionar as intenções verdadeiras do Dr. X e a própria natureza da revolução em que está envolvido.
A narrativa complexa e envolvente de Operation: Mindcrime é reforçada por uma série de faixas que exploram temas de alienação, desilusão e raiva. A faixa de abertura, I Remember Now, estabelece a cena com Nikki despertando para o presente, enquanto Revolution Calling destaca a insatisfação do personagem com o mundo em que vive e sua busca por mudança.
Uma das características distintivas de Operation: Mindcrime é a forma como as músicas se fundem umas nas outras para contar uma história coesa e linear. Já a faixa Suite Sister Mary destaque-se - para além dos quase 11 minutos de duração - pelos elementos de ópera, com a adição de vozes femininas e masculinas em duetos que adicionam profundidade e textura à música.
Outra faixa bem interessante é The Needle Lies. Com uma pegada bem próxima do heavy metal clássico e um refrão memorável, a música aborda a tentativa de Nikki em deixar a organização da qual faz parte e é impedido pelo misterioso Dr. X.
Eyes of a Stranger, uma música emocionalmente carregada, conclui a história com Nikki sendo internado em um manicômio. A faixa, que tem ligação com a I Remember Now, fecha o círculo da narrativa oferecendo uma visão sobre o preço que a busca pela mudança pode ter.
Além da trama envolvente, Operation: Mindcrime é um disco que preza pelo primor técnico na execução das músicas. Geoff Tate, Chris DeGarmo e Michael Wilton, Eddie Jackson e Scott Rockenfield fincaram ali os alicerces do prog metal com uma musicalidade forte, instrumental coeso e refinado, e harmonias vocais bem elaboradas - a produção cristalina e dinâmica assinada por Peter Collins realça todas as nuances presentes nas composições.
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Apesar de um grande álbum, Operation: Mindcrime demorou para "acontecer" comercialmente. Lançado em 3 de maio de 1988, o trabalhou demorou um ano para alcançar a marca de 500 mil cópias vendidas. As coisas melhoraram após a banda lançar o full Empire (1990). Ali, o Queensrÿche passou a ser headliner, ter mais tempo de palco e pôde, enfim, tocar Operation: Mindcrime na íntegra. Desta forma, o disco alcançou um público maior e as vendas dobraram, chegando a marca de 1 milhão de cópias comercializadas. Em 1991, a banda lançou o ao vivo Operation: Livecrime.
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Em 2006 a banda tentou dar continuidade à histórica de Nikki em Operation: Mindcrime II. No entanto, o resultado foi para lá de desastroso. O álbum foi mal recebido pelo público e pela crítica, e nem a participação de Ronnie James Dio ajudou a evitar o fiasco.
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Operation: Mindcrime é um álbum que será lembrado eternamente dentro do rock/heavy metal. Para a crítica, o trabalho está no mesmo patamar de The Wall, do Pink Floyd. Achismos a parte, fato é que o Queensrÿche tem uma obra-prima clássica para chamar de sua.
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