As diferentes cores de Chameleon, o "polêmico" álbum do Helloween

Ouço Helloween, sei lá, desde os meus 14~15 anos. E só recentemente, com mais de 30, é que parei para ouvir o “polêmico” Chameleon. E já adianto meu veredito: gostei. Flutuando pelo soft metal, hard rock, pop, alternativo, progressivo e passagens acústicas, o título do álbum encaixou perfeitamente no contesto que o título sugere.

Quando jovem nunca me dei o trabalho de procurar o álbum porque ouvia dos meus amigos mais velhos e mais "entendidos em metal" que “o disco é uma bosta, o pior do Helloween”. Com esse leque variado de estilos e por ser mais acessível, Chameleon é apontado como um "disco comercial" - e na análise de alguns dentro da cena, isso é um crime inafiançável. 

Bem, acusá-lo de ser um disco comercial é um erro sem tamanho. Aliás, vamos conversar aqui: a partir do momento que uma banda põe o seu disco na prateleira para vender — e nisso se enquadra aquela banda TRVE que diz que “não faz som comercial” -, o disco é, sim, comercial. Isto não se discute.

E sinceramente? O álbum está longe, mas muito longe de ser o pior da carreira da banda. Chameleon está para o Helloween assim como X-Factor está para o Iron Maiden: foi escolhido como bode expiatório.

Para mim, ambos passaram pela prova do tempo. Óbvio que você, leitor, pode e deve discordar de mim. Afinal, estamos falando de arte, de gosto e tudo que engloba o campo da subjetividade. Ter respeitado esse tempo comigo mesmo me deu espaço para amadurecer e ouvir Chameleon despido da armadura do jovem headbanger truezão

Chameleon é muito mais que o disco experimental do Helloween. Chameleon é o álbum mais corajoso da banda alemã. É o lançamento que rompeu a fronteira da mesmice e apostou na novidade.

Manter-se fiel à uma fórmula é garantia de sucesso, mas isso torna o músico refém de algo que, um dia, ele não vai querer mais. E ser refém de alguma coisa pra sempre é uma boa muleta para quem não tem muito para oferecer. O que não era o caso do Helloween aqui.

A banda simplesmente se permitiu. Michael Kiske, Michael Weikath, Roland Grapow, Markus Grosskop e Ingo Schwichtenberg atuaram como músicos no mais amplo sentido da palavra. Experimentaram, tentaram, criaram e exploraram um terreno que nenhuma outra banda de metal exploraria. 

Chameleon é uma importante quebra de paradigma dentro do fechadíssimo universo heavy metal e mostrou uma faceta criativa do Helloween que, caso a banda ficasse presa no legado Keepers, nós nunca tomaríamos conhecimento.

O flow rendeu pérolas maravilhosas e dançantes como First Time, Crazy Cat — o surpreendente uso de metais deu mais grandiosidade e um clima jazzístico à música — e Step Out Of Hell. Windmill — chamada por meus amigos TRVE de “Shitmill” — nem com muito esforço é ruim. Muito pelo contrário. A balada composta por Michael Weikath é doce e suave, mas recheada de uma graciosa melancolia.

When The Sinner é um hard rock que flerta sem pudor com o pop. O refrão acompanhado pelo naipe de metais faz da música uma canção estranhamente palatável. I Don’t Wanna Cry No More surpreende com a pegada country pop.

Revolution Now agrada com um quê de alternativo. Music, uma composição de Grapow sobre um garoto que gosta de música, tem traços progressivos e um bom refrão orquestrado. “Music is like sunrise for me”, diz a letra.

A banda sentiu-se tão confiante com seu “controverso” álbum que quase o tocou na íntegra durante a turnê — apenas Longing (música que encerra o disco) não foi tocada ao vivo, e não havia muito espaço para o “Helloween antigo” no setlist.

Chameleon rompeu o status quo e mostrou um Helloween colorido. Como um camaleão.

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