Sound Classic: "Sonho Maníaco"  -  Korzus

Na primeira metade da década de 1980 o Brasil respirava heavy metal. Neste período, muitas bandas que hoje ainda mantêm a chama do metal acesa davam seus primeiros passos. As influências vinham do som praticado na Europa e nos Estados Unidos. Mas não devemos, claro, esquecer do pioneirismo do Stress que, em 1982, mostrou que era possível tocar um som pesado na terra do samba e da MPB. 

E foi no meio desse terreno altamente fértil que o Korzus arranhava suas primeiras notas nos instrumentos em 1983 com o nome de Mão do Destino  -  influenciados pela música Hand Of Doom, do Black Sabbath . A mudança para o nome Korzus ocorreu nesse mesmo ano.

A primeira demo da banda começou a circular no underground em 1984. Composta pelas faixas Guerreiros do Metal, Príncipe da EscuridãoKorzus e Heavy Metal Fúria, a tape rendeu ao Korzus um convite para integrar o cast da lendária coletânea SP Metal II organizada por Luiz Calanca, da Baratos Afins. Ainda antes do tão aguardado álbum de estreia, foi lançado, pela Devil DiscosKorzus - Ao Vivo gravado no SESC Pompéia. 

Muito bem visto na cena praticando um metal brutal calcado em Venom e Slayer, o Korzus  -  à época formado por Marcello Pompeu (vocais), Sílvio Golfetti (guitarras), Dick Siebert (baixo) e José Maria "Zema" Paes (bateria)  -  entrou no estúdio Guidon, em São Paulo, com o produtor Edy Bianchy para a gravação do debutSonho Maníaco foi lançado em 1987, pela Devil Discos.

Composto por apenas sete faixas, Sonho Maníaco flerta com o satanismo, o mal e a morte sem nenhum pudor. As letras  -  na maioria compostas pelo vocalista Pompeu  -  deixam muitas bandas de black metal parecendo música de jardim de infância. E não precisa escavar muito no álbum para encontrar essas temáticas na música do Korzus. É só ouvir Anjo do Mal, a faixa que abre o disco.

"Pessoas malignas fazem a revolução

Para a escuridão triunfar

Sinto-me invadido por sua força

Grandes calafrios cortam minhas vísceras

Meu espírito está sobre as garras do mal

Minha mente possuída clama por seu nome

Pois sua palavra é minha luz"

O Korzus foi muito bem sucedido na sua empreitada em fazer uma música extrema - fato que rendeu à banda o apelido de "Slayer brasileiro". Pompeu vociferava blasfêmias com muito ódio enquanto Golfetti, Siebert e Zema executavam um instrumental pensado exclusivamente para triturar pescoços. 

A avalanche sonora segue com Juízo Final e Suicídio, sendo esta segunda "responsável" pelo momento mais obscuro da história da banda. Segundo Pompeu, em entrevista para João Gordo no programa PanelaçoZema era um grande apreciador da música e vivia declamando a letra em todos os lugares. Três meses após o lançamento do álbum, no dia 12 de outubro, o baterista cometeu suicídio na sala de casa. Completam a track list: Caminhando Nas Trevas, Sonho Maníaco, Guerra Nuclear e Paraíso Da Morte.

Sonho Maníaco caiu no limbo dentro da história do Korzus tanto pela temática que Pompeu se recusa a cantar novamente, quanto pela produção pobre do disco. É verdade que ninguém gravava álbuns classe A naquela época, mas, mesmo assim, o debut do Korzus ficou muito aquém do que era possível e foi engolido pelos lançamentos posteriores da banda. 

Mesmo com todos esses prós e contras, é inegável que Sonho Maníaco é um marco no metal e serviu para fincar o nome do Korzus no cenário nacional.

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