Misticismo e heavy metal: uma viagem pela Inglaterra ocultista com Bruce Dickinson

Bruce Dickinson chegou ao auge da carreira solo em 1998 quando lançou seu disco mais completo: The Chemical Wedding. Produzido em parceria com Roy Z e Adrian Smith, o álbum foi totalmente inspirado na Alquimia e no Ocultismo, trazendo uma viagem pelos escritos do alquimista inglês Ezekiel Foxcroft, pelas obras do pintor, místico e poeta William Blake, e pela Ordem Mística Rosacruz de Christian Rosenkreutz.

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Os poemas de Blake foram transformados em canções marcantes, como The Book Of Thel, inspirada no livro homônimo; Jerusalem, baseada em The New Jerusalem; e The Gates of Urizen, do livro Book Of Urizen. As pinturas de Blake também foram incorporadas ao encarte do álbum, destacando-se a imagem d’ O Fantasma de uma Pulga (The Ghost of a Flea), pintada pelo inglês em 1819. O folheto interno contém artes que retratam a batalha entre o Bem e o Mal, o Apocalipse e a esperança em um mundo melhor. Todas as obras foram gentilmente cedidas pela Tate Gallery, detentora dos direitos sobre o catálogo de Blake.

Na busca por se manter fiel às obras originais, Dickinson incorporou estrofes de diversos poemas de Blake nas músicas. Um destaque é Jerusalem, na qual o cantor reproduz fielmente o início do poema no começo da canção. O artista inglês Arthur Brown, admirado por Dickinson, emprestou sua voz aos versos complementares na parte final da faixa já citada e em The Book of Thel.

Essas canções repercutiram bastante na cena heavy metal nos anos 1990. Enquanto a primeira nos transporta para a busca de Blake por uma "nova" Jerusalém, a segunda nos leva a reflexões alucinantes de Thel. Vale destacar também as poderosas Trumpets of JerichoKilling Floor (com um vídeo clipe carregado de humor ácido), que aborda os pecados capitais, e The Tower, que versa sobre a simbologia das cartas do tarô - esta última se tornou um grande sucesso e teve boa difusão nas rádios especializadas aqui no Brasil. 

Já a faixa-título traz inspirações no livro homônimo de Christian RosenkreutzThe Chymical Wedding. Os escritos do monge alemão foram responsáveis pela fundação da Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC), um grupo místico e filosófico que tem como objetivo ensinar aos seus membros sobre os mistérios do mundo e sobre si próprios. Rosenkreutz trouxe para a Europa, no século XIV, os conhecimentos que adquiriu com grandes mestres do ocultismo em Damasco, Marrocos e Egito. Foxcroft foi o encarregado de disseminar os estudos de Rosenkreutz pela Inglaterra.

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Musicalmente, Dickinson seguiu a fórmula do seu disco anterior, Accident Of Birth (1997), porém com um pouco mais de peso. As guitarras extremamente pesadas de Roy e Smith, combinadas com as brilhantes interpretações vocais do artista nas 10 faixas do álbum, conferiram o tom ideal para essa obra - Eddie Casillas (baixo) e Dave Ingraham (bateria) completam a banda. Naquela época, o Iron Maiden lançava o enfadonho Virtual XI, que foi recebido com menos entusiasmo, e Bruce conseguiu satisfazer os fãs da banda com o seu trabalho solo.

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A turnê mundial de divulgação do álbum passou pelo Brasil e resultou no lançamento de um álbum ao vivo intitulado Scream For Me Brazil em 1999, mesmo ano em que Bruce Dickinson retornou, juntamente com Adrian Smith, ao Iron Maiden. Em 2008, o cantor aventurou-se no cinema como roteirista e lançou o filme Chemical Wedding que, ao contrário do disco, não recebeu críticas favoráveis.

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* Originalmente publicado no meu perfil no Medium em setembro de 2017.

** O texto sofreu modificações pontuais visando uma leitura melhor.

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