Review: "Impera" - Ghost

Tobias Forge é um gênio. A extraordinária mente por trás do Ghost tem feito o império da banda crescer a cada novo trabalho. O mais recente álbum, Impera (via Loma Vista/Spinefarm), reafirma esta ascensão. 

Confesso que me distanciei um pouco da banda após o Infestissumam (2013) por não conseguir entender as mudanças que o Ghost implementava em sua música. Torcia o nariz pra sonoridade que se tornava mais palatável flertando com o pop rock e se distanciava do heavy metal apresentado em Opus Eponymous (2010).

Como Meliora (2015) e Prequelle (2018) mantiveram o frisson no entorno da banda, era óbvio que o "problema" era comigo. Chegamos, então, em 2022 e a neblina que ofuscava minha relação com a banda se dissipou quando eu dei play em Impera.

Tudo ficou muito claro: Papa Emeritus e seus Nameless Ghouls têm um plano. E este plano consiste em fazer do Ghost uma banda acessível para um grande público sem perder o caráter obscuro, provocador e contestador nas suas letras. 

Para atingir tal público, o Ghost incorporou novos elementos à sonoridade. O cardápio em Impera é o mais variado possível e trás referências ao AOR, hard rock, heavy metal, classic rock, o já citado pop sueco e - pasmem os senhores - funk carioca (leitores: calma!). E é por conta deste imenso caldeirão lotado de ingredientes diferentes é que álbum agrada. Tem música para todos os gostos!

Quer rock "feliz" com guitarras vibrantes, riffs poderoso e pra lá de melódica? Kaisarion!; o AOR dark em Spillways com ótimas linhas vocais e arranjo de teclado digno de notas nos anos 1980 não fica para trás; Call Me Little Sunshine tem conexão com o Ghost do passado e me lembrou em alguns momentos a faixa Cirice.

Watcher In The Sky tem uma pegada totalmente heavy metal 80's com um instrumental energético - com destaque para o baixo pulsante ao longo da canção. A grande surpresa do disco é Twenties. Facilmente a mais pesada e densa entre as demais, a faixa por vezes soa como trilha sonora de filme. Lembra do funk carioca? Então... Forge declarou que escreveu esta influenciado pelo ambiente e pelas músicas que rolam em festas nas favelas do Brasil. 

Impera ainda guarda umas agradáveis surpresas para o fim. Primeiro, um Ghost cínico e irônico com a ótima balada Darkness At The Heart Of My Love - prepare a lanterna do celular (na minha época era um isqueiro)! Griftwood é um exemplo de uma banda acessível, porém contestadora. A letra versa sobre políticos que usam da retórica religiosa para ascender ao poder e agem de forma contrária aos valores cristãos. Tudo isso em uma música que mescla AOR e hard rock com potencial para hit radiofônico. 

O gran finale fica a cargo de Respite On The Spitalfields. Com uma veia progressiva oitentista, a faixa se desenvolve por meio de várias nuances que amarram todo o conceito lírico de Impera. É, sem dúvidas, uma das mais legais do álbum. 

É fato que Tobias Forge sabe muito bem para onde ele quer levar o Ghost. E com Impera, o caminho segue muito bem pavimentando para que ele chegue onde quer que seja. 


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