Review: “Nights Of The Dead, Legacy Of The Beast: Live In Mexico City” - Iron Maiden


Escrever qualquer coisa sobre o Iron Maiden é uma tarefa difícil para mim, sendo o momento onde a linha tênue entre ser jornalista e fã pode ser transpassada a qualquer momento. Só que me permitirei cruzar esta linha para falar sobre seu novo ao vivo intitulado Nights Of The Dead, Legacy Of The Beast: Live In Mexico City lançado mundialmente nesta sexta-feira (20), via Parlophone Records.

No fim de 2017 a banda anunciou sua nova turnê baseada no game Legacy Of The Beast com a promessa de um espetáculo grandioso nos moldes daquilo que os britânicos já estão habituados a fazer. O pontapé da tour foi em Tallin, na Estônia, em maio de 2018. E graças aos tempos modernos, mesmo aqui do Brasil pude acompanhar “ao vivo” o show realizado no pequeno país europeu através das redes sociais.

O setlist recheado de clássicos — incluindo músicas que há muito não figuravam nos shows — já dava indícios de que realmente tratava-se d’O Espetáculo. E assim que as primeiras imagens surgiram estes indícios foram confirmados: Legacy Of The Beast era maior espetáculo visual e sonoro do Iron Maiden desde a Slavery World Tour em 1984 e 1985.

Dividido em três atos — Guerra, Religião e Inferno — a apresentação tinha um caça Spitfire sobrevoando o palco, um lança-chamas e a representação de Ícaro, uma forca, labaredas de fogo, um mecanismo de detonação de TNT, o tradicional Eddie vestido como um soldado e outro gigantesco Eddie demoníaco que surgia atrás da bateria.

Felizmente este espetáculo foi apresentado na íntegra na edição do festival Rock in Rio realizado em 2019. E lá estava eu. Babando pelo Spitfire e por todos os outros apetrechos presentes no show. A abertura com as minhas duas músicas favoritas — Aces High e Where Eagles Dare — me fizeram entrar de cabeça no Mundo Iron Maiden.


Quem já foi a um show da banda sabe quão grande é a sinergia entre o sexteto e o público. O que acontece durante aquelas 2 horas é uma catarse coletiva onde nada mais importa além do Iron Maiden no palco e suas músicas. Os gritos de “Freedom” em The Clansman e os berros a plenos pulmões nas frases iniciais em The Trooper evidenciam essa relação — e o meu sorriso vendo Bruce Dickinson, um homem de 60 anos que venceu o câncer, “lutando” com um boneco de, sei lá, seis metros de altura também.

For The Great Good Of God com toda sua dramaticidade foi uma baita surpresa. E The Wickerman com Dickinson fazendo referência ao amigo Ian Anderson, do Jethro Tull, na frase “The piper at the gates of dawn is calling you his way”? Quem viu, viu! A densa e teatral Sign Of The Croos me deixou boquiaberto durante seus 11 minutos. Já em Flight Of Icarus lá estava eu sorrindo novamente com o senhor de 60 anos brincando com fogo.

Chegamos no Inferno com a eterna The Number Of The Beast e suas labaredas transformando em churrasquinho quem estava na grade. Era tanto fogo que o próprio Diabo deu as caras em Iron Maiden adornado em um maravilhoso jogo de luzes! O ápice veio com Hallowed Be Thy Name e o tão aguardado “scream for me” antes dos solos.

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Pude presenciar e confirmar com meus próprios olhos que, sim, este foi o maior espetáculo já apresentado pelo Iron Maiden. Tudo funcionou de forma precisa. Cenários, panos de fundo, figurino e setlist casaram de forma impecável transformando o show em algo que só vendo mesmo para acreditar!

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DISCO

Para 2020 o Iron Maiden havia programado a terceira e última perna da exitosa tour pela Europa. Contudo, a pandemia do coronavírus brecou os planos da banda. Após o pequeno hiato, foi anunciado que um disco ao vivo seria lançado para celebrar a turnê. Gravado durante três noites na Cidade do México, Nights Of The Dead, Legacy Of The Beast: Live In Mexico City chega ao mercado em edições para fã nenhum colocar defeito.

Produzido e mixado por Tony Newton, e co-produzido por Steve Harris, o álbum pode ser adquirido em seis formatos diferentes: CD duplo digipack, Deluxe Hardcase Book CD duplo, Vinil Triplo (Preto), Edição Limitada em Vinil Colorido 180g com as cores da bandeira do México e na versão digital em todas as plataformas de streaming e download.

Nights Of The Dead, Legacy Of The Beast: Live In Mexico City apresenta uma arte gráfica magnífica! Recheada com muitas fotos e textos, o que mais me chamou a atenção foi a inserção dos projetos de palco para cada um dos atos do espetáculo — Guerra, Religião e Inferno. Na edição em vinil cada projeto é encontrado em um ‘pacote’ do LP.

Musicalmente o disco cumpre de forma esplêndida seu papel que é captar toda a energia de um espetáculo ao vivo do Iron Maiden. Sim, amigos! Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Janick Gers e Nicko McBrain ainda têm alguma lenha pra queimar.

Pois bem. Quando dei o play em Nights Of The Dead, Legacy Of The Beast: Live In Mexico City me vi novamente dentro daquele gigantesco espetáculo. Não demorou muito para que eu pegasse minhas baquetas para o air drums durante Aces High e Where Eagles Dare! Totalizando mais de 100 minutos de música, o álbum é empolgante do início ao fim. Os 70 mil fãs mexicanos interagem de forma visceral e respondem sem hesitar a cada comando de “scream for me” dado por Dickinson.

O sexteto soa de forma cristalina — muito pelo trabalho de mixagem do álbum — e todos os instrumentos podem ser ouvidos de maneira clara e limpa. Isto faz com que as camadas de harmonias e melodias das guitarras ganhem destaque junto à cozinha mais entrosada do metal. E no meio de tudo isso um inspirado Bruce cantando como um Deus!

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Confesso que não sei se havia um plano inicial da banda para lançar um ao vivo neste ano. Mas se tinha ou não pouco importa. O que importa é que o maior espetáculo visual e sonoro do Iron Maiden ganhou um registro definitivo para ser celebrado e guardado para sempre na história.

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