No apagar das luzes de 2022, a one-man band Eu Me Tornei o Sol lançou o excelente disco The Art Of Failure. Mesclando influências de Mayhem (na fase do Grand Declaration Of War), Gaerea, Imperial Triumphant e punk, o álbum conquistou uma posição de destaque na minha lista de melhores do ano. E para conhecer mais sobre a Eu Me Tornei o Sol, saber detalhes sobre o processo de composição de The Art Of Failure e projeções para o futuro, bati um papo com o músico, jornalista, escritor e game designer Marcelo Collar, a mente por trás da Eu Me Tornei o Sol. Com 41 anos de idade e ativo na cena desde 1999, Collar afirma que esta é sua "última banda".
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Conte-nos como surgiu o projeto e por que o nome Eu Me Tornei o Sol.
A primeira banda que eu tive foi em 1999, tocávamos punk rock. Ramones, Misfits, Sex Pistols, essas coisas. Desde então só parei em 2009, quando a banda que eu tinha na época encerrou. Depois vieram alguns projetos de covers, mas nada de muito permanente. Resolvi começar a gravar em casa, e lancei alguns disquinhos. Eu Me Tornei o Sol é o projeto mais recente. Costumo dizer que é minha “última banda”. Estou com 41, então quero manter o foco nela e ver o que sai daí.
Como foi o processo de composição e gravação do EP The Art Of Failure?
Foi algo bem tranquilo. Eu costumo ir compondo e gravando quase simultaneamente. São poucas as músicas que tenho tempo para amadurecer, então o processo é bem no susto mesmo. Crio alguns riffs, batidas, alguns arranjos de cordas e vou em frente. O vocal costuma ser o último, e curiosamente é o que eu sempre fiz em minhas bandas anteriores. Depois que a música está gravada, é raro eu voltar pra mudar alguma coisa.
Uma das influências no som deste EP é o Mayhem e o que eles apresentaram no álbum Grand Declaration Of War. Além dos noruegueses, quais outras bandas serviram de inspiração para The Art Of Failure?
Na época que comecei o disco estava ouvindo bastante o Grand Declaration. É um disco que gosto muito, principalmente por fugir do tradicional. Ultimamente ando ouvindo muito Gaerea e Imperial Triumphant também. Mas acredito que esse disco é uma amalgama de tudo que ouvi ao longo dos anos. Sempre tive um pé no punk, e o disco mostra um pouco disso.
Os arranjos orquestrais contribuíram de forma significativa para que The Art Of Failure soasse o mais perturbador possível. A ideia de incorporar esses elementos estava desde o início do projeto ou ela foi ganhando forma conforme as músicas iam amadurecendo?
Quando comecei queria fazer algo que soasse meio black metal, meio punk, mas com arranjos orquestrais bonitos pra dar uma moldura. Acho que o black se presta muito bem pra melodias, principalmente as mais tristes. É um estilo muito bom pra transmitir emoções, catarse. Assim, desde o início já trabalhei nesses arranjos. Algumas músicas foram construídas ao redor deles, como The Dark Orchestra and the Unbearable Solitude. Por isso o dark orchestra do nome! Outras foram ressuscitadas por eles, como Through the Glass and Beyond That Hill. Eu não estava cem por cento satisfeito com ela, aí comecei a mexer nos arranjos. Em um momento que cheguei naquela sequência pelos 1:11, em que a letra fala “face the enemies at the gates / carve your name into time”. Gostei tanto do resultado que chegou a bater uma bad, “nunca vou fazer um refrão tão legal como esse”!
Em uma publicação nas redes sociais você foi desafiado a cantar o enredo da obra literária Memórias Póstumas de Brás Cubas e aceitou. Como foi transformar em black metal esse clássico do escritor Machado de Assis?
Foi bem desafiador. Faz muito tempo que li o livro. Então tive que relembrar, reinterpretar. Quis fazer um clima diferente do resto do disco. Apesar de a música ter uma estrutura simples, com refrão e tudo mais, não quis repetir a letra, contando uma história do início ao final. O desafio foi um detalhe bacana do disco, que acabou levando ele a um terreno que talvez eu não fosse sozinho.
Outra faixa que chama atenção é o inusitado e maravilhoso cover para Killing Me Soflty With His Song. De onde veio a ideia de regravar essa música? Pra mim, superou o Children Of Bodom e o cover da Britney Spears!
É uma música que gosto muito, ela tem uma melodia triste que achei muito propícia pra uma versão metal. A história foi meio aleatória. Estava no carro com minha namorada e começou a tocar no rádio a versão da Roberta Flack. Na época eu estava trabalhando em uma versão de I am The Walrus, dos Beatles, mas não estava muito satisfeito. Eu já tinha gravado uma versão de Immigrant Song para uma outra banda que tive há alguns anos, e tinha funcionado. Fiquei viajando na melodia de Killing Me Sotfly e resolvi tentar. Acabei gostando do resultado e ela foi pro disco!
>> Resenha: The Art Of Failure - Eu Me Tornei o Sol
Confesso a você que eu só parei pra ouvir The Art Of Failure porque a capa me chamou atenção. O que você pode nos contar sobre a capa? Ela tem algum significado/conceito específico?
Eu sempre gostei de bandas que trabalham seu aspecto visual. Estava ouvindo muito Gaerea e Imperial Triumphant, e resolvi criar uma máscara pra mim, inspirada no nome da banda.
A Eu Me Tornei o Sol é uma projeto para um único disco ou terá continuidade? Podemos esperar novas músicas ou ainda é muito cedo para falar de futuro?
Comecei a pensar em músicas novas assim que encerrei o trabalho no EP. Eu costumo ser meio inconstante no trabalho criativo: em um dia quero gravar música, no outro escrever meus livros, no outro fazer meus jogos… então acabo correndo e aproveitando o foco quando ele aparece! Estou com algumas ideias, mas nada concreto ainda. O sonho é que o próximo lançamento seja um álbum completo, mas é cedo pra afirmar. O que vai rolar, de fato, é um novo clipe, que deve sair ainda esse ano.
Collar, muito obrigado pela entrevista. O espaço final é seu.
Eu que agradeço! É sempre bom ter espaços legais como esse para divulgar nosso trabalho, ainda mais pra artistas como eu, que não tem a possibilidade de fazer isso em shows.
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