Em celebração à música irlandesa, Tuatha de Danann lança “In Nomine Éireann”



Por Diego Cataldo
Com colaboração de Andreza Gonçalves

Os mineiros do Tuatha de Danann caminham para três décadas de existência com sua mescla de heavy metal e música celta. Tendo conquistado um fiel séquito de fãs graças aos lançamentos do EP Tuatha de Danann (1999), o primeiro full-lenght intitulado Tingaralatingadun (2001), The Delirium Has Just Began (EP/2002), o aclamadíssimo Trova di Danú (2004) e um DVD acústico em 2009.

Depois de mais de 10 anos trabalhando de forma ininterrupta, a banda entrou em um período de inatividade. O ressurgimento foi em 2015 com o álbum Dawn Of A New Sun e a regravação do EP de estreia no ano seguinte. Porém, a formação que seguia na banda desde o Trova di Danú se desfez, com Rodrigo Berne (guitarra) e Rodrigo Abreu (bateira) anunciando suas respectivas saídas.

Oficialmente como um trio formado por Bruno Maia (guitarra/vocal/flautas/bandolin), Giovani Gomes (baixo) e Edgard Britto (teclados) — com a luxuosa companhia de Raphael Wagner (guitarra), Nathan Viana (violino) e Rafael Delfino (bateria) -, o Tuatha Danann passou por 2019 com o EP Tribes Of Witching Souls e encerrou 2020 com o novíssimo In Nomine Éireann (via Heavy Metal Rock) em uma ode à cultura irlandesa. Para saber mais sobre o disco conversei com Bruno Maia.

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“In Nomine Éireann” já estava em processo de produção e gravação quando a pandemia chegou e virou o mundo de cabeça para baixo. Sem show e consequentemente sem renda, a banda abriu uma espécie de crowdfunding que valia mais como uma pré-venda do disco para que os fãs pudessem ajudar a banda. De que forma a pandemia atrapalhou a gravação do disco? Qual foi a importância desse apoio do público? E qual foi o saldo final do crowdfunding?
Bruno Maia: Pois é, vivemos um ano complicadíssimo e estranho, né? Ainda vivemos. A pandemia atrasou o disco, pois levamos muito seriamente o isolamento social e isso fez com que nos distanciássemos até de nós mesmos na banda. Isso gerou atraso nas gravações e tudo mais. Sobre o apoio do pessoal em nossa campanha: foi fundamental! O impulso e a motivação que nos deram apoiando e acompanhando todo o processo foi crucial paras coisas fluírem. Este ano foi, com certeza, muito importante e significativo pra nós, apesar do coronavírus… pois pudemos nos aproximar de muitas pessoas que nos admiram e fazem questão da banda existir.

O álbum é uma celebração à cultura irlandesa com nove regravações de músicas tradicionais e duas composições autorais, sendo uma com uma letra colaborativa com os fãs que ajudaram na campanha. Além da pesquisa e do estudo sobre a cultura, qual foi o critério de seleção para as músicas de “In Nomine Éireann”? Ao fim da gravação tiveram sobras? Essas sobras, se existirem, podem vir em lançamentos futuros?
BM: Não teve sobras reais. Teve ideia não aproveitada, mas sobra não! Não houve uma pesquisa sistemática, até porque eu já toco música tradicional irlandesa há muitos anos e parte destes temas que gravamos constam no repertório de uma banda que temos, o Terror Celta (formado por 4 membros do Tuatha: eu, Giovani, Rafinha e Nathan). Mas houve uma curadoria interna para gente poder dosar o clima das peças escolhidas pra balancear a obra inteira, né? Até porque a música irlandesa é muito rica em estilos, subgêneros e mesmo ritmos diferentes — nós queríamos que o disco contemplasse grande parte destes estilos.

“In Nomine Éireann” conta com um seleto grupo de convidados, entre eles Keith Fay (Cruachan), Folkmooney, Daísa Munhoz, John Doyle e outros. Como foram feitos os convites? Tinha alguém que você queria muito que participasse e que não foi possível?
BM: Foram todos via Facebook! (Risos). Quase todos são velhos amigos, com exceção do John Doyle que sempre foi um grande ídolo meu e que aceitou participar de muito bom grado. Essa participação foi uma grande realização, até por não sermos amigos, nem próximos.

A capa de “In Nomine Éireann” foi desenhada por Paulo Oliveira. Qual o significado dos principais elementos que a compõem?
BM: O Paulo é um artista fenomenal! Queríamos que estivessem representados alguns aspectos da Irlanda mitológica, da Irlanda mágica e da Irlanda rebelde. As três deusas representam a deusa tríplice que pode ser a jovem, a mulher e a velha; ou o passado, presente e futuro; ou ainda vida, morte e renascimento, entre outros. A harpa, além de ser retratada na mitologia celta irlandesa como um instrumento mágico, quase que de guerra (há episódios em que harpistas hipnotizam inimigos em batalhas, entre outros), é um símbolo nacional da Irlanda. É a cota de armas do país! O emblema do país é um instrumento musical, sendo este um símbolo de resistência, uma vez que o país foi uma colônia por séculos e teve seus símbolos, sua arte e sua cultura perseguida. As harpas foram destruídas, queimadas, os harpistas mortos, e quando a ilha alcançou sua independência elencou o instrumento como seu símbolo para rememorar a luta de tantos que sofreram e lutaram pela liberdade daquela terra. É um símbolo mágico e rebelde!

Escutando o disco duas músicas me chamaram a atenção: Guns and Pikes e Moytura. O que você pode falar sobre elas?
BM: Moytura se inicia com o tema de uma canção nossa, a Battle Song, e depois emenda em duas tunes tradicionais. Ficou muito massa mesmo! Já Guns and Pikes deve ser a música mais animada do disco, com uma letra que convida a celebrarmos a memória dos rebeldes que se sacrificaram em nome de algum bem comum. Essa quando voltarem os shows será animal, acho!




E como tem sido a repercussão do álbum junto ao público e a crítica? Em um ranking feito por uma loja na Galeria do Rock (SP) “In Nomine Éireann” figurava entre os mais vendidos. Para você, qual o peso da avaliação de cada um no trabalho do Tuatha de Danann?
BM: A crítica tem sido excelente até agora! Só reviews e notas fabulosas! O público tem dado um feedback fantástico. Eu acho que é um disco que você pode até torcer o nariz pro estilo, por não ser sua praia, mas é inegável a qualidade musical do trabalho.

O álbum foi produzido por você no seu estúdio em Varginha (MG) e essa é uma tendência que vem com a banda desde o lançamento Dawn of a New Sun (2015). Por que você resolveu assumir toda a produção dos discos Tuatha de Danann?
BM: Cara, na verdade eu sempre meio que produzi o Tuatha, pois fui eu que sempre escolhi o que entrava nos discos ou não. Fazia a curadoria e quando chegávamos ao estúdio toda a concepção e noção do que o disco deveria ser vinham comigo. No Trova di Danú nós tivemos o Paulo Anhaia que é um produtor fabuloso e fez o disco alcançar resultados tão legais, mas mesmo neste disco eu fui o co-produtor. Então, eu acho que nada mais natural que eu produzir os discos!

O Tuatha já tem algum material para um novo álbum? Em 2019, no EP The Tribes Of Witching Souls, vocês lançaram uma música chamada Conjura que tem como tema a Inconfidência Mineira. Vocês trabalham com a possibilidade de um álbum conceitual sobre algo relacionado à história de Minas Gerais?
BM: Temos sim, muitas ideias separadas pro próximo disco. Esperamos que possamos ainda tocar este disco e só assim partir para o próximo, mas não paramos de criar não. A ideia de um disco conceitual sobre Minas existe já há um tempo sim, não sei se será feito agora no próximo disco ou mais para frente, mas está nos planos sim.


Hoje o Tuatha de Danann é um trio formado por você, Giovani Gomes (baixo) e Edgard Britto (teclados). Por que vocês decidiram trabalhar desta forma e como serão as futuras apresentações ao vivo da banda? Nathan Viana (violino), Raphael Wagner (guitarra) e Rafael Delfino (bateria) serão fixos para as turnês?
BM: Eles já fazem os shows com a gente já há um tempo, o Nathan desde 2017, e os dois Rafael(s) fizeram a tour do “Tribes”. São ótimas pessoas, ótimos músicos e ‘tamo’ tudo em casa!

Recentemente você divulgou um novo crowdfunding mas dessa vez para o Braia, o seu projeto solo. O que você pode adiantar sobre o disco e como as pessoas podem colaborar com o projeto?
BM: Pois é, dessa vez será instrumental, mas mantendo a mesma premissa do diálogo entre a música brasileira e a tradição irlandesa somados ao rock progressivo. A campanha está rolando no Kickante. São 10 músicas muito doidas que abordam ritmos e linguagens brasileiras com uma instrumentação diferenciada, com gaitas de fole, flautas irlandesas etc… bem doido!

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RESENHA: IN NOMINE ÉIREANN



Mais cedo ou mais tarde o Tuatha de Danann lançaria um álbum dedicado à música irlandesa. Quiseram os deuses que este momento viesse em um dos períodos mais sombrios da nossa geração vivendo uma pandemia. E assim, In Nomine Éireann chega trazendo consigo um suspiro de leveza e beleza promovendo uma mais que necessária paz de espírito para o encerramento de 2020 e o início de 2021.

In Nomine Éireann chama atenção pela delicadeza e cuidado com as 11 peças presentes no disco. Destas, nove são canções tradicionais da Irlanda e duas são autorais — sendo uma com letra colaborativa junto com os fãs. Os arranjos merecem total destaque; é impressionante a expertise de Bruno Maia na hora adicionar tais elementos na música do Tuatha.

O repertório foi minuciosamente escolhido para compor o disco. Algumas músicas que remontam ao século XIX ganharam uma nova roupagem à altura do trabalho dos mineiros. A participação dos inúmeros convidados; entre eles Alex Navar, Keith Fay, Folkmooney, Manu Saggioro, Daísa Munhoz etc; trouxe ao disco uma áurea ímpar.

Agradável do início ao fim, In Nomine Éireann chega para “rivalizar” com Trova di Danú como o melhor trabalho da carreira do Tuatha de Danann. Mas isto só o tempo dirá.

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