Review: ‘Vårjevndøgn’ — Isengard

Criado em 1989 pelo multi-instrumentista Fenriz, o Isengard surgiu como uma espécie de válvula de escape para que o músico norueguês pudesse trabalhar suas ideias — e outras influências — que não se encaixam no seu principal trabalho, o seminal DarkThrone.

Desde então o projeto tem cinco lançamentos entre o fim dos anos 1980 e a primeira metade da década seguinte: Spectres Of Gorgoroth (demo/1989), Horizons (demo/1991), Vandreren (demo/1993), Vinterskugge (compilação/1994) e Høstmørke (full-length/1995).

Agora, 25 anos depois, o Isengard lança o novo Vårjevndøgn via Peaceville Records diante dos últimos raios de sol de outono e aproximação do inverno europeu. [N.R.: Vårjevndøgn no inglês Vernal (Spring) Equinox ou, em português, Equinócio da Primavera].

Em um primeiro momento o álbum pode soar estranho, sem rumo e completamente confuso. No entanto, após novas audições é que as coisas começam a se encaixar. Ao contrário de Høstmørke onde a música flertava entre o viking/black/doom, Vårjevndøgn é uma belíssima ode às bandas cult veneradas por Fenriz.

Vårjevndøgn é uma jornada monumental de heavy metal épico misturado com uma atmosfera frequentemente mais sombria de doomy rock/metal trazendo à mente bandas como os veteranos do heavy metal americano Pentagram”, diz o press-release da gravadora.

É impossível — pelas influências — não compará-lo aos recentes trabalhos do próprio DarkThrone, que ao longo dos últimos tem apostado em um som mais próximo do vintage metal com uma destaque maior para as guitarras e seus riffs mais elaborados.

Gravado entre 1989 e 1993 por um um inquieto Fenriz — que produziu o disco e tocou todos os instrumentos — Vårjevndøgn abre com a excelente Dragon Fly (Proceed Upon The Journey) com destaque para os maravilhosos riffs, melodia e vocais agudos — sim, isso mesmo! Um épico vindo direto das profundezas dos anos 1980.

Devido ao som precário e cru, a impressão que se dá é que o álbum foi gravado de forma espontânea em um único take, bem natural. É nítida a falta de preocupação com uma estética sonora limpa e “agradável”, e isto faz com que o disco soe de forma maravilhosa para o deleite dos saudosistas.

Esta espontaneidade pode ser apreciada em Rockemillion, uma fascinante peça de 2 minutos feita única e exclusivamente para bangear com uma linha vocal que gruda de imediato intercalando canto, fala e berros no refrão. Aqui nota-se influências de true punk com speed metal.

The Light pode ser apontada como a música mais bem trabalhada do álbum apresentando toda a atmosfera doomy rock/heavy descrita no release ao longo dos seus quase seis minutos de duração. Mesmo sendo mais cadenciada que as demais, ela cativa do início ao fim com excelentes riffs e um ótimo trabalho de um inspirado Fenriz no seu principal instrumento: a bateria.

Completamente diferente dos trabalhos anteriores do Isengard, Vårjevndøgn tem causado uma certa revolta na ala mais true que acompanha os trabalhos da banda. Contudo, com mais de 30 anos de estrada e uma sólida carreira com o DarkThrone, Gylve 'Fenriz' Negall adquiriu um status e uma reputação que lhe dão toda a liberdade e segurança para fazer o que ele bem entender com os projetos.

O próprio músico fez questão de explicar o que é, para ele, a essência que move o Isengard:

ISENGARD, como de costume, tem uma sonoridade que depende da cooperação do ouvinte para funcionar, pois não entrega tudo mastigado, todos nós precisamos contribuir para desenterrar nossos tesouros pessoais. Esse é um dos traços do que chamamos de CULT METAL, o reino daqueles de nós que gostam de tudo com personalidade e autenticidade”.

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