Resenha: Lords Of Chaos (livro)

Quem acompanha o metal de perto ao menos já ouviu falar sobre os acontecimentos que assombraram a Noruega no início da década de 1990. Enquanto uma efervescente cena local de black metal colocava o país nórdico como um dos maiores exportadores de música extrema naquela época, crimes cometidos supostamente em nome de Satã fizeram com que aquela cena ganhasse as páginas policiais dos tabloides locais e depois do mundo.

Lançado originalmente entre 1997/1998, Lords Of Chaos: The Blood Rise Of The Satanic Metal Underground, escrito por Michael Moynihan e Didrik Søderlind, finalmente ganhou uma versão nacional limitada em 666 cópias pela editora Estética Torta sob o nome Lords Of Chaos: A Sangrenta Histórica do Metal Satânico Underground com tradução de Tavos Mata Machado.

À época do seu lançamento, o livro sofreu diversas críticas daqueles que de alguma forma estavam envolvidos na cena. Muitos acusavam os autores de fazerem sensacionalismo e utilizarem-se de informações imprecisas sobre o que de fato aconteceu.

No entanto, Lords Of The Chaos está longe de ser um mero livro de história. A ideia dos autores é tentar entender como algo pequeno e local ganhou proporções mundiais e causou transtornos pela Europa e Estados Unidos. Ao entrevistar músicos, jornalistas, estudiosos, padres, satanistas e outras figuras, Moynihan e Søderlind criaram um importante documento para quem estuda o fenômeno black metal.

O livro esmiúça, nas suas mais de 400 páginas, diversas teses, documentos e registros históricos — principalmente da imprensa — na tentativa de montar o quebra-cabeça que dê algum sentido aos atos iniciados no país escandinavo. E a principal peça a ser desvendada é Varg Vikerness com sua influência nos acontecimentos que se seguiram mesmo após sua prisão e condenação em 1993.

[N.R.: Tanto Lords Of Chaos quanto o documentário Satan Rides The Media apontam a parcela de culpa da imprensa em todo o caos causado durante os anos 1990. Os jornais noruegueses deram muita atenção à “onda satanista” e suas matérias sensacionalistas — e muitas vezes imprecisas — serviram como panfleto de divulgação principalmente para o já citado Vikerness. O famoso artigo no jornal Bergens Tidende, que revelou toda a cena, publicado em 20 de janeiro de 1993 e assinado por Finn Bjørn Tønder, foi traduzido para o português e anexado ao livro. O notório despreparo do jornalista para lidar com o assunto somado às declarações meticulosamente pensadas para causar impacto pode ser considerado o estopim para a propaganda gratuita. Sensacionalismo vende. E quando houve o reconhecimento dos exageros já era tarde demais.]

Existem questionamentos sobre o livro, como a metodologia empregada pelos autores não ser a mais correta e o quanto a atenção e espaço dado para pessoas com pensamentos tão extremos possa ser tão nocivos e perigoso para a sociedade — principalmente jovens leitores.

Há, de fato, uma infinidade de declarações racistas, misóginas e um exacerbado culto à figuras ligadas à extrema direita. Algumas passagens, sim, são como propagandas gratuitas de uma visão de mundo perturbadora. Contudo, não trazer à luz estes personagens e suas ideias deixaria a obra incompleta.

Questionamentos à parte, é inegável que Lords Of Chaos é o mais importante registro sobre como um movimento de subcultura oriundo da outrora pacata Noruega virou um problema policial e político em escala global.


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