O álbum de estreia do Renaissance é uma peça fundamental na história do rock progressivo inglês, um gênero que floresceu no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Caracterizado pela fusão de elementos do rock com a música clássica, jazz e folk, este estilo encontrou em bandas como Yes, Genesis e King Crimson seus expoentes mais famosos. Embora menos conhecido que esses gigantes, o Renaissance virou uma espécie de banda cult no cenário progressivo, e o primeiro passo foi dado com o álbum homônimo de estreia, lançado em 1969.
YARDBIRDS: UMA INCUBADORA DE TALENTOS
O Yardbirds foi uma das bandas mais influentes dos anos 1960, conhecida por sonoridade que fundia blues, rock e experimentação diversas. A banda foi a incubadora de talentos como Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, este que formaria o titânico Led Zeppelin. O Renaissance também tem raízes no Yardbirds, através de Keith Relf e Jim McCarty, que, após a dissolução do grupo, buscaram um novo som que se afastasse do blues-rock pesado em direção a algo mais sofisticado e melódico.
NASCE O RENAISSANCE
Era um período de grande experimentação musical na Inglaterra, e o rock progressivo dava seus primeiros. As bandas da época estavam ansiosas por ultrapassar os limites do rock 'n' roll convencional, incorporando estruturas mais complexas, influências de música clássica e jazz, e letras poéticas e filosóficas. Keith Relf e Jim McCarty formaram, então, o Renaissance. A formação original era composta por Relf (vocal e guitarra), McCarty (bateria e vocal), John Hawken (piano), Louis Cennamo (baixo) e Jane Relf (vocal).
ANÁLISE DO ÁLBUM
"Renaissance" é uma obra de arte que exemplifica a fusão harmoniosa de estilos musicais. Além disso, o álbum contém inúmeras citações a peças clássicas famosas. Essas passagens, onde o erudito e o rock se encontram, dão um tom especial às faixas e se tornariam uma marca registrada do Renaissance com o passar dos anos.
- Kings and Queens
A faixa de abertura é um épico de quase 11 minutos, repleto de mudanças de tempo e variações dinâmicas. A influência da música clássica é evidente nas estruturas complexas e nos arranjos intrincados. A combinação dos vocais de Keith com as harmonias instrumentais, especialmente o piano de Hawken, cria uma atmosfera majestosa.
- Innocence
'Innocence' é uma peça mais curta em comparação à faixa de abertura, mas não menos impressionante. A canção mistura elementos de folk com passagens clássicas, demonstrando a habilidade de Hawken no piano, que novamente brilha e confere à faixa uma sensação de elegância e sofisticação.
- Island
Hawken e Cennamo comandam a ação nesta faixa, mas outro grande destaque é o florescer da voz de Jane, irmã mais nova de Keith. A letra poética e a melodia envolvente transformam a música em uma viagem emocional por belas paisagens. A inclusão de citações de peças clássicas nas passagens instrumentais adiciona profundidade e riqueza à composição.
- Wanderer
Música mais curta do álbum, 'Wanderer' tem uma introdução de piano que remete a compositores clássicos como Chopin. Na segunda metade da faixa, Hawken desenvolve uma belíssima linha no cravo, acompanhada pela emotiva voz de Jane, que canta sobre autoconhecimento.
- Bullet
Encerrando o álbum, 'Bullet' é outra longa peça progressiva que combina seções de rock energético com interlúdios mais psicodélicos. Alguns trechos soam como mantras esotéricos, graças aos vocais que evocam uma exaltação mística. Outro destaque é o uso de trechos clássicos do compositor soviético Serguei Prokofiev.
LEGADO E NOVA ERA
Embora a formação original do Renaissance tenha durado pouco, o álbum de estreia resistiu à prova do tempo. A banda logo se desfez e passou por inúmeras formações nos primeiros meses de 1970. Entre os músicos dessa "formação de transição" estavam o guitarrista Michael Dunford e o pianista John Tout. Eles foram responsáveis por reformular o Renaissance com Anne Haslam (vocal), Terry Sullivan (bateria) e Jon Camp (baixo), levando a banda ao estrelato durante a década de 1970.
A ILUSÃO PÓS RENAISSANCE
Sem Keith, McCarty e Cennamo, que por razões distintas deixaram o Renaissance, Hawken reorganizou a banda – por obrigações contratuais – para terminar de gravar o segundo álbum da banda chamado "Illusion" (1971).
Já em 1976, Keith pensou em reunir os músicos originais do Renaissance e gravar um novo disco. No entanto, aos 33 anos de idade, o músico morreu eletrocutado no porão de casa enquanto tocava guitarra. Com John Knightsbridge e Eddie McNeil, Jane e McCarty deram continuidade ao projeto e formaram a banda Illusion. O novo projeto gravou dois discos - "Out Of The Mist" e "Illusion" - e logo acabou, em 1979.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário!