Se não tivesse sido usurpada pela horda de imbecis de verde e amarelo na suposta "revolução" que jogou este país na lama, a frase "o gigante acordou" poderia definir Necropolítica, o tão aguardado novo álbum do Ratos de Porão. No entanto, eu fico com a definição dada pela banda: "chinelada na cara da família fascista brasileira, sangue, insultos, palavras de baixo calão e verdades indigestas".
Sem um álbum de inéditas desde o ótimo Século Sinistro (2014), o quarteto lendário formado por João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) esperou o melhor momento - se é que dá pra chamar este momento vivido pelo país de melhor - para destilar todo o ódio contra tudo isso que tá aí, tá ok?
Necropolítica resgata o ápice sonoro vivido pela banda na trilogia Cada Dia Mais Sujo e Agressivo (1987), Brasil (1989) e Anarkophobia (1991). Ou seja, um crossover brutal. Em termos líricos, por retratar o cenário atual do país, o álbum está próximo de algo como um Brasil 2.
Aliás, as letras escritas por Gordo para Necropolítica descrevem muito bem a mediocridade brasileira, principalmente de 2018 para cá. Não à toa o foco central é o (des)governo chefiado pela anomalia intelectual que ocupa a cadeira presidencial no Planalto. A pandemia de covid-19 e as consequências macabras pela falta de políticas públicas também ganham destaque.
Estes dois assuntos são expostos explicitamente em Aglomeração e Necropolítica, que saíram como single, e em Entubado. A abertura com a ótima Alerta Antifascista traz uma letra fortíssima em trechos memoráveis como Ser humano decadente/Especialista em matar/Privatizando o presente/Sem futuro para sonhar.
A máquina de fake news e triturador de adversários da milícia palaciana, o inescrupuloso Gabinete do Ódio é exposto em G.D.O. E fica o recado para o "Cabeção": Bangu 8 te espera! A cereja do bolo - e para mim a melhor do disco - é Neonazi Gratiluz, uma verdadeira peça de chacota contra o brasileiro pseudo branco e metido a rico que pela manhã fala em Deus e à noite prega dizimação de parte da população.
Necropolítica é o disco certo no momento certo. Em pouco mais de 30 minutos de muita chinelada, o Ratos de Porão conseguiu expressar todo o ódio acumulado nesses últimos anos de Brasil. Importantíssimo para o cenário atual, o disco nos ajuda a entender que é impossível suportar mais quatro anos sob o domínio dessa corja.
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