Holy Land: uma viagem pela Terra Brasilis ao som de guitarras e percussões

Após o enorme sucesso conquistado com Angels Cry (1993) forjado na fórmula básica do metal melódico vigente na época, o Angra resolveu ousar e flertar de forma explícito com composições mais complexas mesclando heavy metal, música clássica e muita brasilidade. Assim, em 1996, nascia o Holy Land.

Produzido por Charlie Bauerfeind e novamente gravado na Alemanha, Holy Land é um álbum temático com base nas grandes navegações do século XVI com enfoque no descobrimento do Brasil. Apesar disto, o disco não é conceitual, o que abre o leque para diversos temas dentro do conceito lírico e não uma história específica e contínua com início, meio e fim.

Holy Land é cheio de personalidade. À época, o Sepultura lançava o seu Roots com muita influência de música brasileira e percussão. Contudo, o Angra mostrava um passo além com essa mescla. O uso de instrumentos no mínimo curiosos dentro do estilo atrelados à melodias suaves e grandiosas de orquestrações e o onipresente power metal transformou Holy Land n’O Álbum.

A belíssima introdução Crossing composta pelo italiano Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525–1594) prepara o terreno para a entrada triunfal do quinteto formado por Andre Matos (vocal), Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro (guitarras), Luis Mariutti (baixo) e Ricardo Confessori (baterria) apresentar o hit Nothing To Say, rico em influência da música nordestina — como o baião.

Silence and Distance, uma composição inspirada de Andre Matos, emociona pela beleza melancólica sobre os anseios de um navegador prestes a iniciar uma viagem pelo mar desconhecido. A música serve como um prelúdio para a épica Carolina IV, que certamente é a melhor canção do disco.

Muita brasilidade, percussões e um canto em português para Iemanjá, a Rainha do Mar, dão início à viagem de Carolina IV, uma embarcação que “pegou o rio para o céu”. A música apresenta uma profícua combinação entre o erudito e o heavy metal. Após a introdução, a banda mete o pé no acelerador rumo ao refrão grandioso. Outro trecho importante é o solo, onde a banda utilizou um trecho de Bebê, do compositor Hermeto Pascoal.

Em Holy Land, as referências à música brasileira dão as caras logo no início. O berimbau, a percussão e o piano nos remetem à música Berimbau, obra de Baden Powell e Vinicius de Moares presente no disco Os Afro-Sambas. A brasilidade segue em alta com The Shaman, baseada no poema Juca Pirama, de Gonçalves Dias, onde a banda traz a fala de um xamã retirada do disco Música Popular do Norte n°4.


O álbum segue com a belíssima balada Make Believe em mais um grande destaque vocal de Andre Matos no refrão. A música foi escolhida como single e teve boa repercussão na mídia. Maior enigma do disco, Z.I.T.O mostra que o Angra power metal estava vivíssimo no meio de tanta referência à música brasileira. Destaque para os solos épicos da dupla Kiko e Rafael e para a cozinha precisa de Ricardo e Luis.

A dobradinha Deep Blue e Lullaby For Lucifer encerra o álbum de maneira serena e grandiosa, sendo que na segunda o ambiente calmo criado pelo violão e os baralhos do mar e pássaros põe um excelente ponto final nesta impressionante obra do metal nacional.

CURIOSIDADE

Por mais de 20 anos os fãs da banda tentavam a todo custo descobrir ao certo o significado de Z.I.T.O. Alguns acreditavam que era um acrônimo para Zur Incognita Terra Oceanus, mas a banda não confirmava e nem negava. Mas o mistério chegou ao fim em 2018, quando o guitarrista Rafael Bittencourt finalmente explicou (?) o misterioso acrônimo.


...

Para ouvir o disco clique AQUI.

Comentários